Título: Brasil apoia condenação da Síria na ONU
Autor: Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 23/11/2011, O Mundo, p. 33

Moção foi aprovada no Comitê de Direitos Humanos da Assembleia Geral, e posição brasileira contraria Brics

NOVA YORK. Uma resolução condenando o governo da Síria pela violência na repressão aos protestos da oposição foi aprovada ontem no Comitê de Direitos Humanos da Assembleia Geral das Nações Unidas pela maioria esmagadora de 122 votos, incluindo o do Brasil. A mudança na diplomacia brasileira, que havia se abstido na última votação contra a Síria no Conselho de Segurança, no mês passado, foi elogiada por entidades internacionais de defesa dos direitos humanos. Dentre os Brics, o Brasil foi o único que votou a favor: Rússia, China, Índia e África do Sul se abstiveram.

- Foi um passo corajoso do Brasil e um sinal, esperamos, de que o país está pronto para ações do Conselho de Segurança. Esperamos que outros países sigam a liderança do Brasil, agora que não podem mais se esconder atrás de uma posição conjunta do Ibas - disse o diretor da Human Rights Watch para a ONU, Philippe Bolopion, referindo-se ao grupo formado por brasileiros, indianos e sul-africanos.

Posicionamento da Liga Árabe pesou na decisão

A votação de ontem mostrou que o regime de Bashar al-Assad está mais isolado a cada dia. Rússia e China, que haviam exercido seu poder de veto no Conselho de Segurança, desta vez se abstiveram (o total de abstenções foi 41). Os 13 votos contrários à resolução vieram de países de menor importância e de ditaduras como Cuba, Irã e Coreia do Norte, além dos "bolivarianos": Venezuela, Equador, Bolívia e Nicarágua.

O Brasil havia votado a favor de uma primeira resolução do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, em agosto, condenando a violência praticada pelo governo sírio. O brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro foi indicado para liderar a comissão de inquérito criada com aquela resolução. O Itamaraty considera o Conselho o foro adequado para a discussão de situações como essa. No Conselho de Segurança, porém, o Brasil resistiu à adoção de medidas como sanções contra o regime Assad e priorizou o engajamento da Síria, enviando uma missão a Damasco, composta também por representantes da Índia e da África do Sul.

Para chegar à decisão do voto de ontem, o Itamaraty avaliou que os esforços para incentivar o diálogo entre o regime de Assad e a oposição não estão dando resultados, e que a violência na repressão tampouco arrefeceu.

- É animador ver o Brasil reconhecer que o engajamento com o governo sírio não estava levando a lugar nenhum. O governo sírio estava apenas tentando ganhar tempo - disse Bolopion.

Pesou muito também, para a nova posição do Brasil, a decisão da Liga Árabe de suspender a Síria. Na votação de ontem, diversos países árabes, como Egito, Jordânia, Arábia Saudita, Marrocos e Qatar apoiaram a condenação ao regime sírio.

O embaixador da Síria junto às Nações Unidas, Bashar Jaafari, protestou contra a resolução, apresentada por três países europeus - França, Reino Unido e Alemanha - com o apoio dos Estados Unidos.

- Esta resolução não tem nenhuma relevância para os direitos humanos, a não ser o fato de integrar a política americana contra o meu país - condenou o diplomata sírio.