Título: Em duas semanas, óleo pode chegar às praias
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 23/11/2011, Economia, p. 25

Plâncton já estaria sendo afetado

O óleo derramado pela Chevron na Bacia de Campos pode começar a chegar em praias do estado, nas próximas duas semanas, sobretudo em Búzios e Angra e, também, no Espírito Santo e Ubatuba, em São Paulo. O alerta foi dado por técnicos do Ibama e do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) que, reunidos com o secretario estadual do Ambiente, Carlos Minc, alertaram que o óleo chegará em forma de pequenas pelotas de piche.

- Cerca de dois terços de todo o óleo, sobretudo aquele mais grosso, ainda está abaixo do espelho d"água. Este óleo vai passando por processo físico-químico até virar pelotas, que vão acabar nas praias - disse Minc, acrescentando, no entanto, que isso dependerá das condições climáticas para determinar o tempo que as bolas de piche vão levar para chegar às praias.

O professor Paulo Rosman, do Departamento de Engenharia Oceânica da Coppe/UFRJ, concorda com Minc que o piche pode chegar às praias, mas frisou que "é bastante improvável".

- Seria necessária uma condição climática específica, com ventos soprando a um quilômetro por hora, por cinco dias seguidos, para o óleo chegar até a praia.

Ainda que o derramamento de óleo da Chevron seja bem menor do que o da Petrobras, em 2000, na Baía de Guanabara, Rosman considera que o acidente da Chevron deve servir de alerta.

Segundo especialistas, o vazamento de petróleo impede a entrada de luz no mar, afetando o plâncton, conjunto de micro-organismos que são a base da cadeia alimentar do oceano. De acordo com uma fonte, a Polícia Federal já notou os efeitos do óleo nesses organismos, que estão presentes na camada superficial do mar. E já foram constatados graves danos ao fitoplâncton, formado por algas microscópicas, e ao zooplâncton, composto por animais, como o krill.

- Pode se criar um desequilíbrio na cadeia alimentar, já que a região onde aconteceu o vazamento é rota de baleias Jubarte, golfinhos e tartarugas - disse a fonte.

Gilson Oliveira, biólogo marinho do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro, diz que parte do petróleo afunda e se mistura com areia e lama. Com isso, é criado um novo desequilíbrio, já que elimina bactérias que degradam material orgânico. (Liana Melo e Bruno Rosa)