Título: Mercado financeiro impulsiona nova corrida pelo ouro
Autor: Carvalho, Cleide
Fonte: O Globo, 23/11/2011, Economia, p. 23

Minério é um dos mais valorizados da atualidade, com alta de 104% entre dezembro de 2008 até novembro

BRASÍLIA. A retomada dos investimentos na extração de ouro no Brasil - que tem programados aportes de ao menos US$2,4 bilhões de 2011 a 2015 e está apoiada na implementação de tecnologia de ponta, como mostra desde domingo série especial do GLOBO, que termina hoje - tem no mercado financeiro uma de suas molas propulsoras. O minério é um dos mais valorizados ativos da atualidade e sua cotação internacional voltou a bater recordes, acumulando alta de 39% no terceiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. E foi justamente a crise de 2008 que jogou os preços nas alturas.

De dezembro daquele ano até agora, a valorização foi de 104%. Nenhum outro investimento seguro - para grandes aplicadores - garantiu tantos lucros. Daí o interesse crescente pelo metal, inclusive dos bancos centrais, sobretudo depois da desvalorização do dólar e das incertezas no mercado europeu, com risco de calotes em dívidas públicas.

Demanda de mais de mil toneladas no 3º trimestre

No terceiro trimestre deste ano a demanda por ouro chegou a 1.054 toneladas, batendo um recorde de US$57,7 bilhões, segundo dados divulgados na semana passada pelo Conselho Mundial do Ouro (WGC, na sigla em inglês). Em quantidade, são 6% a mais do que no mesmo período do ano anterior.

Os próprios bancos centrais, que mantêm boa parte de suas reservas em ouro, dispararam como consumidores nesta nova corrida do século XXI. Prova disso é que os principais importadores do Brasil são Suíça e Reino Unido, interessados em compor as suas reservas.

Somente no terceiro trimestre deste ano, os bancos centrais compraram 148 toneladas de ouro. É o maior volume de que se tem notícia desde 1988 e, segundo o WGC, a tendência deve ser mantida ao longo de 2012.

As reservas internacionais brasileiras existem desde antes de o Banco Central se tornar a autoridade monetária do país, em 1964. Eram mantidas pelo Banco do Brasil. Com a lei 7.766 de 1989, o ouro passou a ser considerado ativo financeiro. Dos US$352,9 bilhões que o BC mantinha a título de reservas em outubro, US$1,8 bilhão correspondia a ouro, o dobro do nível de dezembro de 2008.