Título: Nem títulos da Alemanha escapam de desastre
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 24/11/2011, Economia, p. 31
Governo alemão só consegue vender metade dos papéis, e analistas veem profunda desconfiança em relação ao euro
RIO, BERLIM, FRANKFURT e MADRI. A crise da dívida soberana na zona do euro continua corroendo a confiança dos investidores. No sinal mais recente de aversão a risco, o leilão de 6 bilhões em bônus oferecidos ontem pela Alemanha fracassou, levando os mercados financeiros a especular se a crise não estaria afetando até mesmo a principal economia do bloco. A operação, considerada "desastrosa", acabou levando o retorno do título de dez anos para um nível acima do Treasury americano, o que não ocorria desde outubro.
O governo alemão conseguiu vender apenas 3,644 bilhões do total ofertado, a um rendimento médio de 1,98%. em comparação aos 2,09% do leilão anterior, em outubro. Os títulos de dez anos do Tesouro alemão subiram 0,12 ponto percentual, para 2,039%, em comparação com 1,946% dos papéis dos EUA. Já o euro perdeu 1,3%, para US$1,3327. Um porta-voz da Agência de Finanças alemã disse que o "resultado não significa qualquer gargalo de refinanciamento para o orçamento."
Observadores disseram que o resultado foi o pior dos últimos tempos para uma venda de títulos públicos alemães.
- O leilão reflete mais a profunda desconfiança no projeto euro do que uma desconfiança com respeito aos títulos do governo alemão - diz o analista-chefe do banco holandês Danske, Jens Peter Sorensen.
Os investidores também ficaram nervosos com a divulgação de um relatório especial da agência de classificação de risco Fitch, sugerindo que a França, a segunda maior economia da zona do euro, está com pouco espaço de manobra para absorver choques em suas finanças, como um novo desaquecimento de sua expansão econômica ou a necessidade de financiar bancos, sem pôr em risco sua preciosa classificação de crédito AAA.
O banco central (BC) da Grécia afirmou que o país precisa de um "esforço total" se quiser continuar na zona do euro. "O que está em jogo é se o país se manterá na zona do euro", disse o BC grego, conclamando o novo governo, liderado por Lucas Papademos, a recuperar a confiança, melhorar as finanças do país e retomar o crescimento.
Bolsas caem em todo o mundo, inclusive a Bovespa
A tensão na zona do euro contaminou as bolsas de valores de todo o mundo e o Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), caiu ontem 1,62%, aos 54.972 pontos, menor nível em um mês. As taxas de rendimento dos títulos da Itália, da França e da Espanha voltaram a subir ontem, demonstrando desconfiança dos investidores. Em Wall Street, o Dow Jones recuou 2,05%; o S&P 500, 2,21%; e o Nasdaq, 2,43%. Na Europa, Londres caiu 1,29%, Paris perdeu 1,68% e Frankfurt recuou 1,44%. Em Madri e Milão, as quedas foram de 2,09% e 2,59%, respectivamente.
João Pedro Brugger, analista da Leme Investimentos, diz que as ações da Bovespa têm demonstrado resistência, caindo menos do que nos mercados americanos. Para ele, isso é explicado pelo fato de o Ibovespa já ter caído muito ao longo do ano e pela sinalização mais clara pelo BC da politica monetária:
- Com esse cenário lá fora, a situação da Bovespa até que não está tão ruim.
(*) Com Bloomberg News, "El País" e agências internacionais