Título: Juros viram espólio de Meirelles
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 16/08/2009, Economia, p. 19

Novo presidente do BC será mensageiro de más notícias

Se as projeções dos observadores mais pessimistas do mercado se confirmarem, o sucessor de Henrique Meirelles na presidência do Banco Central arcará com o ônus de ter que aumentar a taxa básica de juros (Selic) em 2010, em pleno período eleitoral. Apesar de, nos últimos dias, as apostas nesse sentido terem esfriado, os contratos futuros de juros ainda continuam apontando para alta de até três pontos percentuais, o que levaria a taxa básica dos atuais 8,75% para 11,75% ao ano.

¿Mesmo achando exageradas as projeções de alta para os juros em 2010, não descarto que o BC tenha que subir a Selic em algum momento. No meu cenário básico, vejo alta de 1,5 ponto percentual no próximo ano¿, diz a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif. ¿E tudo indica que isso acontecerá mais para o fim de 2010¿, acrescenta. Ou seja, esse movimento impopular terá de ser comandado pelo sucessor de Meirelles, que, até o fim de setembro se filiará a um partido político para concorrer, muito provavelmente, ao governo de Goiás, e no fim de março do ano que vem, deixará o BC. Meirelles assumiu a presidência do banco no início de 2003.

Na avaliação dos especialistas, mesmo que haja necessidade de a taxa Selic ser aumentada ainda quando Meirelles estiver à frente do BC ¿ o que está descartado, porque não há pressões inflacionárias à vista ¿, ele não o fará. Por uma simples razão: Meirelles está cada vez mais candidato e menos presidente do BC. Se houver algum movimento da taxa Selic neste momento, será para baixo, conforme Meirelles indicou recentemente ao presidente Lula, seu novo cabo eleitoral.

Desconfianças

Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, diante dos números favoráveis da inflação, que, pelas suas contas, deve fechar este ano abaixo do centro da meta de 4,5%, e ser ainda menor em 2010, o sucessor de Meirelles no BC pode ficar tranqüilo. ¿Não haverá necessidade de os juros subirem. Tudo conspira a favor da inflação aqui e no exterior, como estão mostrando os indicadores de preços e de atividade¿, assinala.

A tendência, na visão de Gonçalves, é de que a transição no comando do BC seja tranquila, pois tudo leva a crer que haverá uma solução caseira. O escolhido para o lugar de Meirelles deve ser o diretor de Normas, Alexandre Tombini, que já vem sendo preparado para o cargo.

Meirelles deverá se filiar ao PP, partido do atual governador de Goiás, Alcides Rodrigues. Líderes da legenda, inclusive, já estão se movimentando para aglutinar forças em torno da candidatura do presidente do BC. Mas o objeto de desejo de Meirelles é o aval do PMDB.

O número Selic 8,75% índice atual da taxa básica de juros