Título: UPP Social chegará ao Alemão antes da UPP
Autor: Daflon, Rogério
Fonte: O Globo, 27/11/2011, Rio, p. 22

Ações, no entanto, já começam em dezembro; moradores temem que obras não sejam retomadas e até volta do tráfico

O Exército completou um ano de permanência nos complexos do Alemão e da Penha. Para moradores, o que melhor aconteceu nesse período foi o fim das cenas de traficantes circulando de fuzis. No entanto, nem tudo são elogios: líderes comunitários dizem que, enquanto a Unidade de Polícia Pacificadores (UPP) não é instalada, a UPP Social - programa da prefeitura cuja função é organizar e fazer convergir serviços públicos e ações da iniciativa privada - está fazendo falta aos dois complexos.

Para esses moradores, a boa notícia é que a UPP Social será instalada na região em janeiro, antes mesmo da unidade policial. E já no mês que vem começará a haver ações.

A informação foi dada por Ricardo Henriques, presidente do Instituto Pereira Passos e responsável pela UPP Social.

- Nas demais comunidades, o período entre a ocupação e a implantação da UPP costuma ser de um a dois meses. No Alemão e na Penha, esse período vai ser de mais de um ano. É natural, portanto, que a UPP Social comece a atuar a pleno vapor antes mesmo da chegada da polícia pacificadora - afirmou, ressaltando que a prefeitura já investiu cerca de R$ 500 milhões em obras na região, como urbanização e construção de moradias.

Obra de reurbanização só atingiu parte de rua

Mas a ansiedade entre os moradores é grande. Alan Brum, da ONG Raízes em Movimento, diz que "a retirada do tráfico armado foi um grande avanço":

- Mas a UPP Social não entrou e, por isso, os líderes comunitários não têm com quem fazer uma interlocução.

A ausência da UPP Social também está dificultando a ida de mais empresas para os complexos. No Alemão, a Natura vai patrocinar ações sociais. A rede de supermercados Carrefour, por sua vez, investe recursos na ONG Dialog, que faz trabalhos comunitários, sobretudo na área de educação. Já o Sebrae tem atuado orientando pequenos negócios para se tornarem formais. A Firjan também prepara ações para a região. Mas condiciona sua entrada nos complexos à instalação da UPP.

Nas comunidades, moradores se mostram inseguros quanto à continuidade das obras. No Alemão, ressalta o presidente da associação comunitária, Wagner Nicasio, intervenções da primeira fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) pararam dois meses após a ocupação feita pelo Exército:

- A prefeitura fez uma obra de reurbanização no início da Rua Joaquim Queiroz. Mas essa rua corta todo o complexo e tem problemas ao longo dela.

Não há qualquer previsão para começar a segunda fase do PAC nos dois complexos, de acordo com a Empresa de Obras Públicas (Emop). A empresa, porém, garante que essas obras acontecerão. Enquanto isso, continuam inacabados serviços da primeira fase, sobretudo o alargamento de vias. É o que se vê na Rua Canitá e na Avenida Central, no Morro do Alemão; na Rua Nova, no Morro do Itararé; na Padre Avelino, no Adeus; e na Antônio Austragésimo, na Fazendinha. Já localidades como Areal, Matinha e Mineiros têm graves problemas de saneamento básico e casas em estado muito precário.

- Temos um teleférico pronto, mas lugares com extrema pobreza. E, como aqui não há UPP, temos muitas incertezas em relação ao futuro, um ano após a chegada do Exército - disse o analista de sistema Douglas Santos, morador da localidade de Mineiros.

Em nota, a Emop informou que as obras paradas "estão na dependência de algumas desapropriações".

- Essas obras deixaram entulho, poeira e ratos aqui - diz uma moradora que não quis se identificar.

No Complexo da Penha, entre as dez comunidades, apenas uma está com obras em ritmo acelerado. Trata-se da Vila Operária, vizinha à Vila Cruzeiro. Os trabalhos ali - de drenagem, saneamento básico e acessibilidade - estão sendo feitos pela Secretaria municipal de Habitação. A incerteza quanto a essas obras se soma ao medo de que as áreas deixem de ser seguras.

- Aqui o tráfico continua atuando. Eles não mostram armas, mas a venda de drogas se mantém. E se o Exército for embora e a polícia não entrar depois com a UPP? - diz um morador da Vila Cruzeiro.

O chefe do Comando Militar do Leste, general Adriano Pereira Júnior, afirma que os dois complexos não estão prontos para receber uma UPP.

- Volta e meia, prendemos pessoas vendendo drogas e portando armas. Vamos lembrar que há uma ano houve uma operação de emergência, que não teve como contar com um planejamento detalhado. A urgência se devia à morte de 38 pessoas e ao fato de 181 veículos terem sido queimados. Quando ficou claro que essas ações foram chefiadas pelo tráfico da Vila Cruzeiro, ficou evidente também que algo teria que ser feito - disse o general.

Para Exército, região ainda não pode receber UPP

Por isso, acrescentou o comandante, não foi feito o que normalmente acontece durante operações de preparação para a implantação de uma UPP.

- Como a ação foi em regime de urgência, não houve a varredura de armas que, por exemplo, o Bope fez na Rocinha. No Alemão, também não houve na ocasião a prisão dos grandes chefes do tráfico. Por isso, hoje a avaliação do Exército é que não haveria como instalar uma UPP no Alemão e na Penha. Aquelas duas áreas ainda não estão pacificadas, embora nosso número de prisões, apreensão de armas e drogas tenha aumentado muito - disse o general, mostrando uma lista na qual se vê o número de 2.505 armas apreendidas. - Os índices de segurança da região, que apontam queda nos crimes, mostram que o Exército vem cumprindo bem sua missão.

Dados do Instituto de Segurança Pública ilustram o que disse o general, mas alguns índices baixaram bem mais que outros. Entre 29 de novembro de 2009 e 29 de novembro de 2010, ocorreram na região 94 homicídios dolosos. Já de novembro do ano passado, quando aconteceu a ocupação, até este mês, foram 81. Ou seja, uma redução de 13,8%. Já os autos de resistência (mortes em confronto com a polícia) caíram de 57 para 16 (71,9%). No caso de roubos de veículos, o recuo foi de 1.166 para 808 (31%).