Título: Crise no coração do euro
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Fonte: O Globo, 26/11/2011, Economia, p. 41

Standard & Poor"s rebaixa nota de crédito da Bélgica, capital da UE, e Moody"s corta Hungria

Do New York Times*

Acrise da dívida soberana chegou ontem ao coração da zona do euro. A agência de classificação de riscos Standard & Poor"s (S&P) anunciou o rebaixamento da nota (rating) da Bélgica, país sede da União Europeia (UE). O anúncio foi feito depois de outra agência, a Moody"s, ter anunciado o rebaixamento da Hungria, após uma semana de corte de ratings de bancos europeus expostos à crise. Na quinta-feira, Portugal também teve sua nota rebaixada para "lixo".

Os ratings são notas dadas a países e empresa com base em sua capacidade de honrar dívidas, usadas por grandes investidores para decidir onde aplicar seu dinheiro. Os níveis mais altos são conhecidos como grau de investimento, porque são uma espécie de selo de segurança para investimentos.

No caso da Bélgica, o corte foi de AA para AA+ (ainda grau de investimento) e ocorreu alguns dias depois de as agências terem advertido que a nota máxima (AAA) da França, segunda maior economia da zona do euro, corre o risco de ser rebaixada, à medida que a crise do euro contamina os países da região.

Apesar de ser a sede administrativa da UE, a Bélgica está sem um governo eleito há 19 meses. Além disso, numa medida polêmica, o governo interino concordou em repartir com a França o resgate do banco franco-belga Dexia, primeira instituição europeia a ser parcialmente nacionalizada em meio à crise do euro.

A S&P anunciou que está preocupada com a capacidade de reação das autoridades belgas às potenciais pressões econômicas dentro e fora do país. O governo interino tentou melhorar as finanças do país, mas, sem uma liderança política sólida, tornou-se difícil adotar medidas fiscais e estruturais profundas, segundo avaliou a S&P.

Itália paga o dobro de juros em leilão

"O anúncio feito pela S&P reforça a necessidade de finalizar o orçamento para 2012 o mais rápido possível", disse o ministro de Finanças da Bélgica, Didier Reynders, em uma nota.

A S&P estima que o governo belga também terá que colocar mais dinheiro no seu setor financeiro, à medida que os bancos do países enfrentam cada vez mais dificuldade para obter crédito nos mercados. A agência também prevê que o governo terá que injetar 90 bilhões do dinheiro dos contribuintes - cerca de 24,5 do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) - no Dexia, até o fim deste ano.

A Moody"s, por sua vez, rebaixou o rating de crédito da Hungria para grau especulativo na quinta-feira à noite. O corte representou um duro golpe para o premier Viktor Orban, que vem adotando políticas heterodoxas para enfrentar a crise e anunciou que não pedirá ajuda internacional. Para o governo húngaro, o corte foi um ataque financeiro contra o país.

O corte de crédito soberano da Hungria foi de um grau, para Ba1 - este nível já não é mais considerado grau de investimento e, sim, grau especulativo, o que impede investimentos de vários fundos que têm como regra aplicar apenas em países com o investment grade. Além disso, tem perspectiva negativa.

A Moody"s anunciou a decisão horas depois de a S&P também ter rebaixado o rating do país. A Moody"s citou ainda a crescente incerteza sobre a capacidade da Hungria de cumprir suas metas fiscais, os elevados níveis de dívida e também o que chamou de cada vez mais restritas perspectivas de crescimento para o médio prazo como as principais razões por trás do corte do rating, que estava em Baa3.

À medida que a crise do euro dá sinais de uma contaminação mais abrangente, os países da região enfrentam mais dificuldades nos leilões de títulos soberanos. Ontem, o Tesouro italiano conseguiu vender 8 bilhões de papéis com vencimento em seis meses com uma taxa de remuneração de 6,5%, quase o dobro do que teve que pagar no leilão anterior, realizado em 26 de outubro, quando os juros foram de 3,5%. Além disso, foram colocados outros 2 bilhões em bônus de dois anos a uma taxa de juros de 7,8%, ante 2,01% da vez anterior.

Os operadores consideraram o resultado muito ruim. E o Banco Central Europeu (BCE) voltou a intervir no mercado de títulos ontem, comprando papéis de Itália e Espanha. Na próxima semana, a Itália fará mais dois leilões de títulos, no total de 8,8 bilhões.

A semana foi marcada pelo aumento do prêmio pago aos mercados por quase todos os países da zona do euro, em especial o fracasso de um leilão de títulos a dez anos da Alemanha, maior economia da zona do euro. Para os analistas, a dificuldade na venda dos papéis refletiu a desconfiança geral em relação ao euro.