Título: BC faz 3º corte de 0,5 ponto e juros caem a 11%
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 01/12/2011, Economia, p. 27

Na última reunião do ano, autoridade monetária indica que manterá reduções da taxa básica. Analistas já projetam Selic de um dígito

Gabriela Valente, Lino Rodrigues e Bruno Rosa

BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu ontem, pela terceira vez seguida e de forma unânime, os juros básicos da economia em 0,5 ponto percentual, para 11% ao ano. Em seu último encontro em 2011, o colegiado seguiu as indicações de continuação do ajuste moderado da Taxa Selic que vinham sendo dadas pelo presidente da instituição, Alexandre Tombini, e atendeu, desta forma, às expectativas do mercado e do governo.

Com o movimento de ontem, o Copom praticamente reverteu a política de altas da Selic que vigorou de janeiro - quando os juros subiram 0,5 ponto, para 11,25% ao ano - a julho - quando atingiram 12,5%. A expectativa dos analistas é que nos dois primeiros encontros de 2012, em janeiro e março, haja novos cortes de 0,5 ponto. Depois, a Selic ficaria congelada em 10% ao ano até dezembro.

A grande expectativa dos economistas era pelo teor do comunicado divulgado após o encontro. O texto reafirmou que um corte de 0,5 ponto - considerado moderado - é consistente com a volta da inflação para o centro da meta, de 4,5% pelo IPCA, no ano que vem. A inflação acumulada nos últimos 12 meses está em 6,97%, rompendo a margem de tolerância de dois pontos percentuais. A projeção do mercado é que termine 2011 em 6,49%.

- Ao manter o comunicado como os dos encontros anteriores, o BC está indicando que manterá esta política de cortes - avaliou Ricardo Denadai, da Santander Asset, para quem a Selic fechará 2012 a 10%.

Há, porém, quem espere uma taxa menor, de um dígito, como o economista Eduardo Velho, da Prosper Corretora:

- Em particular após a divulgação da nova metodologia do IPCA, estimamos uma inflação inferior em 0,20 a 0,25 ponto nos próximos meses, o que abre espaço para novos cortes.

Para o economista da Votorantim Asset Fernando Fix, a taxa básica de juros pode cair ainda mais caso a crise financeira internacional fique mais forte. E destaca que o mais importante do comunicado do Copom foi restabelecer a previsibilidade.

Essa foi a terceira queda seguida de 0,5 ponto percentual desde agosto, quando os juros interromperam uma sequência de cinco altas consecutivas para conter a escalada da inflação ainda na esteira do superaquecimento da economia brasileira, que cresceu 7,5% em 2010.

Para o economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, os analistas erraram bastante nas projeções, e prever os atos do Copom tornou-se um desafio. Isso tem sido reiterado até nas atas divulgadas pelo comitê.

Economistas ouvidos em pesquisa do BC esperam no início de 2011 que a Selic terminasse dezembro em 12,50% ao ano, bem longe do valor agora consensual de 11%. Para 2012 a projeção média é de 10%.

País se mantém como 1º no ranking de maior juro real

Apesar do corte, o Brasil manteve a liderança no ranking de juros reais mais altos do mundo. Levantamento da Cruzeiro do Sul Corretora, que avaliou 40 países, coloca o Brasil com uma taxa real de 5,1%, seguido por Hungria, com 2,5%; e Indonésia e Chile, ambos com 1,5%. A decisão do BC segue a tendência mundial de redução das taxas, como forma de manter a atividade econômica aquecida e aumentar a capacidade de resistência à crise. No início do mês, o BC europeu cortou os juros em 0,25 ponto percentual (de 1,50% para 1,25%) e, na terça-feira, foi a vez de a Austrália reduzir também 0,25 ponto (de 4,75% para 4,50%).

- Mesmo os países com inflação acima do ideal estão vendo que os preços vão cair com a redução da atividade econômica. Por isso, a preocupação agora é manter a economia aquecida, com algum crescimento ao longo dos próximos meses - avaliou o economista da consultoria Tendências Raphael Martello.

Pelos cálculos do economista Jason Vieira, autor do estudo da Cruzeiro, o posto de líder no ranking, mantido há quase dois anos pelo Brasil, só seria perdido se o corte na Selic chegasse a 3,5 pontos. Entre os emergentes, México, com 1,3%; China, com 1%; e Rússia, também com 1%, fecham a lista dos sete países com os maiores juros do mundo.

A redução da Selic surtirá pouco efeito nas linhas de crédito cobradas ao consumidor, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac). O juros anuais no cheque especial, por exemplo, terão queda de 0,73%, passando de 157,76% ao ano para 156,61% anuais. No cartão de crédito, o juro cairá de 238,30% ao ano para 236,83%, retração de 0,62%.

- A diferença entre a Selic e o que é cobrado ao consumidor é de 900% - disse Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac.

A queda da Selic dividiu as duas principais entidades industriais do país. Enquanto a Confederação Nacional da Indústria avaliou a decisão como correta, evidenciando a preocupação do Copom com a retração da atividade econômica, a Fiesp, que reúne as indústrias paulistas, cobrou cortes mais agressivos para conter o enfraquecimento da atividade doméstica.