Título: Taxa de divórcios atinge recorde no país
Autor: Góes, Bruno; Bruno, Cássio
Fonte: O Globo, 01/12/2011, O País, p. 16

Só ano passado 243 mil casais se divorciaram, destaca IBGE; uniões de pessoas que já foram casadas também cresceram

Os brasileiros estão se divorciando cada vez mais. É o que revelam as estatísticas do Registro Civil de 2010, divulgadas ontem pelo IBGE: segundo os dados, só no ano passado foram registrados 243.224 divórcios, contra 174.747 em 2009. O levantamento também aponta o aumento nos "recasamentos", as uniões de quem já foi casado antes. Os números confirmam as mudanças nas famílias brasileiras, muitas delas hoje formadas por filhos de diferentes relações.

A taxa geral de divórcio no país é recorde: 1,8 por mil habitantes entre pessoas de 20 anos ou mais - a maior da série histórica do IBGE desde 1984, ano em que o instituto iniciou a análise do tema. Há dois anos, o índice era de 1,4 e, em 2000, de 1,2.

Em 2010, Rondônia foi a unidade da Federação com maior taxa de divórcios (3,5), seguido de Distrito Federal (3,3). Maranhão e Piauí possuíam a menor taxa (1) do país. Apesar do aumento da proporção de divorciados no país, quatro estados mantiveram as taxas no mesmo patamar entre 2009 e 2010: Roraima (2), Tocantins(2), Paraíba (1,4) e Mato Grosso (1,3).

Para o administrador Carlos Place, o primeiro casamento durou menos que o esperado: apenas seis meses. Após cerca de três anos de namoro, ele casou em 2004, quando a ex-mulher estava no oitavo mês de gravidez, do primeiro filho dele:

- Casei por causa do meu filho, ele é que pesou mais. Não esperava que durasse pouco, mas são coisas que acontecem na vida da gente.

Meses depois, Place se recuperou do término da relação e casou novamente. Agora, vivendo com a segunda mulher, Tatiana, e os três filhos - Gabriel, de 7 anos, do primeiro casamento de Place; Beatriz, de 7, do primeiro casamento de Tatiana; e Lucas, de 3, filho de Place e Tatiana -, diz que é feliz. Mas vê muitos amigos se divorciando:

- Hoje as pessoas são muito preocupadas com a vida profissional e bens materiais. Tenho amigos cujas esposas viajam muito, eles acabam não se vendo direito e ninguém quer abrir mão de nada para a relação.

- Em 2010, houve eliminação da necessidade da separação para casos com menos de dois anos, somada à possibilidade, desde 2007, de realizar esses divórcios nos tabelionatos. A mudança na lei e a eliminação dos trâmites burocráticos deram agilidade ao divórcio - diz Claudio Dutra Crespo, gerente de Estatísticas Vitais e Estimativas Populacionais do IBGE.

A redução da burocracia apontada por Crespo ocorreu após aprovação no Congresso, em 13 de julho do ano passado, da emenda constitucional 66. Antes, os casais precisavam ter pelo menos um ano de separação judicial ou dois anos de separação consumada - quando o marido e a mulher não estão mais juntos, mas eram considerados casados diante da Justiça. Agora, a separação pode ser imediata, desde que seja de consenso de ambas as partes e eles não tenham filhos menores.

O advogado Armando Taha, de 40 anos, casou-se em 2004, após nove anos de namoro. O casamento, porém, durou menos de cinco anos. Segundo ele, já havia desgastes na relação e a ex-mulher pediu a separação. Mas Armando continua crendo no casamento como instituição:

- Você fica mais criterioso, mas não acho que seja uma instituição falida.

Com a experiência de quem advoga na área cível, Taha crê que muitos casais se divorciam porque mudanças na lei tornaram o processo mais fácil.

- Muitos casais já estavam separados de fato (e não no papel), mas antes havia uma burocracia e um custo - diz Taha.

Casamentos duram menos

A média de idade dos cônjuges no momento do divórcio aumentou. Em 2010, o homem se divorciava, em média, aos 43 anos; já em 2000, era aos 41. Entre as mulheres, a alta foi de um ano: de 38 para 39 anos.

O IBGE também revelou que 40,9% dos divorciados em 2010 tiveram um casamento que durou no máximo dez anos. Em 2000, esse período representou 33,3%; em 2005, 31,8%.

Se o casamento não der certo, é só "descasar". Esse é um pensamento que o pesquisador Roberto Nemeth, de 55 anos, que se divorciou após sete anos de casamento, diz que deplora. A separação dele aconteceu em 2005, quando ele passava por problemas financeiros. Segundo Nemeth, a ex-mulher não quis aceitar que aquela era só uma fase e pediu o divórcio:

- Eu sempre pensei que casamento era coisa séria, para a vida inteira. A instituição família é importante. O ser humano hoje pensa que o amor está num armazém, é como se encontrasse uma pessoa numa prateleira do supermercado e dissesse "se não for bom, eu descarto".