Título: Bolsa sobe e dólar cai com menos IOF
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 02/12/2011, Economia, p. 30

Alívio para capital externo faz Bovespa avançar 2,2%. Moeda fica em R$1,802

BRASÍLIA e RIO. O pacote de medidas para turbinar a economia trouxe um alívio na tributação na entrada de capital estrangeiro no país e provocou forte euforia na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O governo reduziu de 2% para zero o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para aplicações desses investidores em ações. O Ibovespa, índice de referência do mercado, reagiu com uma alta de 2,23%, aos 58.143 pontos, maior patamar em duas semanas. Na máxima, chegou a avançar 2,47% em um dia de perdas nos mercados externos. Também foram desoneradas as aplicações em capital de risco e o cancelamento de recibos de ações de empresas brasileiras negociadas no exterior, as chamadas ADRs.

No mercado de câmbio, a expectativa de entrada de mais dólares de investidores estrangeiros no país fez a moeda americana fechar cotada a R$1,802, uma baixa de 0,61%. Foi a quinta queda seguida frente ao real, maior sequência desde 15 de outubro. Na mínima, o dólar chegou a recuar 1,65%.

Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a ideia foi uma forma de ajudar as empresas a se financiarem com taxas menores. Ele explicou que a equipe econômica suspendeu o IOF dos estrangeiros em ações - criado em 2009 - porque não identifica mais especulação no mercado.

- O mercado de capitais é importante para a captação de recursos por parte das empresas. É o recurso mais barato que há. Tínhamos taxado os estrangeiros (com 2% de IOF) porque havia alguns excessos - explicou o ministro.

Apesar da forte alta da Bolsa ontem, corretoras e gestoras ficaram divididas sobre o real impacto das medidas. Para Guilherme Benchimol, sócio da XP Investimentos, o corte vai atrair investidores estrangeiros e atenuar perdas do mercado:

- O estrangeiro que colocasse US$100 milhões no mercado brasileiro deixava, de partida, US$2 milhões para o governo. Isso não existe mais e vai fazer diferença na hora de grandes investidores escolherem onde aplicar o dinheiro.

Para Pedro Rudge, sócio da Leblon Equities, as medidas são positivas, mas insuficientes para atrair investidores estrangeiros. Ele lembrou que o IOF de 2% sobre ações é cobrado desde outubro de 2009 e que isso não impediu a entrada de investidores estrangeiros no país em 2010.

- É uma boa notícia, mas não vi o estrangeiro deixar de vir para o país quando o IOF foi criado lá atrás. O que vai acontecer nos mercados depende muito mais da crise na Europa e da recuperação nos Estados Unidos - disse Rudge.

Equipe econômica espera mais apoio do mercado

Entre os destaques do pregão, as ações ordinárias (ON, com voto) da BM&FBovespa, holding da Bolsa brasileira, subiram 6,68%, para R$10,54. Foi a maior alta do papel desde 1º de setembro. A BM&FBovespa disse, em nota, que o governo atuou "com precisão e demonstrou visão" nas medidas anunciadas. Outros destaques foram papéis do mercado doméstico, como as ações ON da LLX Logística (7,67%, a R$3,23) e da construtora MRV (5,58%, a R$12,30). O volume de negócios do mercado foi de R$6,9 bilhões.

Segundo Peter Weiss, fundador da SLW Corretora, as medidas são bem-vindas ao baratearem os custos das ofertas públicas de ações (IPOs, na sigla em inglês). Os estrangeiros são, tradicionalmente, os maiores compradores de novas emissões. Mais de 11 empresas cancelaram ofertas este ano.

- Não é por causa do IOF que as aberturas de capital não aconteceram. Vivemos uma grande crise na Europa. Mas, quando o mercado melhorar, sem sombra de dúvida isso vai ajudar - avalia Weiss.

Com as medidas, a equipe econômica espera que o mercado passe a apoiar outras ações de controle de capital que já foram adotadas no país, como a cobrança do IOF para operações com derivativos. Essa taxação foi muito criticada pelo mercado, que considera a decisão do governo arbitrária.

- O IOF sobre derivativos veio para ficar e, se precisar, vamos subir essa alíquota de 1% - disse um técnico.

O governo reduziu ainda de 6% para zero as aplicações de estrangeiros em títulos de longo prazo. Esses papéis, voltados para o setor de infraestutura, foram autorizados pela equipe econômica no fim do ano, mas não estão sendo emitidos.

Para Luciano Suana, diretor da área de crédito no Brasil do Barclays, o imposto inviabilizava qualquer operação de clientes estrangeiros do banco e será importante para dar liquidez ao mercado secundário.