Título: PDT faz pressão para Lupi entregar o ministério
Autor: Braga, Isabel; Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 02/12/2011, O País, p. 12

Pedetistas acreditam que situação é insustentável e temem que partido seja prejudicado na reforma ministerial

BRASÍLIA. Entre a noite de quarta-feira e a manhã de ontem, houve grande pressão de dirigentes pedetistas para que o ministro Carlos Lupi deixasse o cargo imediatamente. Segundo fontes do partido, o presidente da legenda, deputado André Figueiredo (CE), e o secretário-geral, Manoel Dias, chegaram a aconselhar Lupi a entregar logo o cargo, com o argumento de que a situação era insustentável e que a legenda já estava sangrando demais. Mas o ministro insistiu que não pediria demissão nessas circunstâncias, para não sair com o "carimbo de corrupto". Os dirigentes evitaram declarações públicas, mas outros companheiros de Lupi do PDT manifestaram o descontentamento com sua permanência.

O deputado Paulo Rubem Santiago (PDT-PE) afirmou que Lupi expõe o partido de forma desnecessária. E ressaltou que a recomendação da Comissão de Ética deveria ter encerrado a crise.

- O desgaste é muito grande. Os blogs do país todo dando, jornais locais. As pessoas nos cobrando na internet, nas conversas. O partido é maior que qualquer ministro. (Ficar no cargo) É uma posição equivocada depois da Comissão de Ética e dos últimos fatos. Para que sangrar até a reforma? - cobrou Santiago.

O secretário-geral do PDT, Manoel Dias, admitiu que há revolta entre os pedetistas e disse que é direito de cada ter uma opinião sobre a situação, mas criticou o debate pela mídia.

- Nosso pessoal está revoltado, o desgaste é ruim, mas é o preço que se paga, e vai passar. Quando esfriar, a população vai ver que se cometeu uma grande injustiça com Lupi e o partido - disse Dias: - Enquanto não houver decisão da instância partidária, o partido, em sua maioria, está solidário ao Lupi. Eu nunca pedi para o Lupi sair.

Sob fogo cerrado, o ministro do Trabalho não cedeu nem mesmo a pedidos de aliados do PDT. Os pedetistas temem que o desgaste prejudique o partido, que negocia uma reacomodação honrosa, depois da reforma ministerial prevista para 2012.

Os escudeiros de Lupi ganharam o apoio do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). Após a reunião entre a presidente Dilma Rousseff e o ministro, no final da manhã de ontem, Vaccarezza disse a Manoel Dias que, até prova em contrário, Lupi é um homem honesto. Entretanto, não fez juízo de valor sobre os motivos pelos quais a Comissão de Ética resolveu pedir a exoneração de Lupi.

Se antes o ministro estava desafiante, chegando a "duvidar" de sua demissão, ontem Lupi se valeu do silêncio. O ministro só saiu do gabinete para falar com Dilma, no Planalto, por volta das 9h30m. Àquela altura, sequer sabia se terminaria o dia no cargo. Mais tarde, com a certeza de que sua demissão estava ao menos postergada, voltou para o prédio do ministério, onde ficou encastelado até o começo da noite. Não concedeu entrevistas, nem mesmo emitiu nota oficial.

Com o cargo por um fio, Lupi enforcou a sexta-feira, retornando ao Rio ainda na noite passada. Nem mesmo a assessoria do pedetista sabia informar se hoje ele participaria de algum evento público em sua terra natal.