Título: Ciro azeda festa do PSB e afirma que Eduardo Campos precisa de estrada
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 03/12/2011, O País, p. 24

Em ato partidário, governador de Pernambuco é saudado aos gritos de "presidente"

BRASÍLIA. O clima de festa no grande ato político preparado para mostrar unidade do PSB, que pretende se credenciar como alternativa de poder nas próximas eleições presidenciais, azedou com as farpas disparadas pelo ex-ministro e candidato duas vezes derrotado Ciro Gomes contra o governador Eduardo Campos (PE), presidente da legenda. Campos comandou a festa na abertura do congresso nacional do partido como grande estrela, diante de um plenário que gritava: "Brasil pra frente, Eduardo presidente". Mais tarde, quando chegou, Ciro disse que o pernambucano ainda tem muita estrada pela frente.

No encontro, Campos foi reconduzido como presidente nacional do PSB, e inicia agora um périplo país afora como cabo eleitoral de 1.500 candidatos próprios a prefeito.

- Eles estão gritando meu nome é para presidente do PSB, fiquem tranquilos! A presidente Dilma sabe da nossa história, tradição, sabe que nossa relação não é eleitoral. Quando precisou, contou com o PSB. Agora, na DRU, quando alguns vacilaram, nós do PSB estivemos juntos. A presidente está ficando é alegre em ver o PSB crescer - disse Campos, sorridente sobre o grito de guerra da Juventude Socialista do PSB.

Ciro chegou depois e jogou um balde de água fria na festa, ao dizer, em entrevista, que o governador não tem a "estrada" que ele tem. Ao ser chamado para a Mesa, Ciro foi vaiado. No plenário, um grupo circulava com uma faixa com os dizeres: "Queremos a democracia do PSB de volta no Ceará. Fora ditadura dos Ferreira Gomes". O governador do Ceará, Cid Gomes, estava na mesa.

- Tenho uma relação fraterna e de amizade com Eduardo Campos. Discordei na forma como ele viu a sucessão presidencial de 2010. Achava e acho que o partido deve ter um candidato. Mas Eduardo é um grande quadro, decente, trabalhador, inteligente e, mais do que tudo, é um bom amigo. Tem todos os dotes para isso (ser candidato a presidente), só lhe falta a estrada que eu tenho - alfinetou Ciro.

Ciro afirmou que quem já foi candidato a presidente duas vezes, como ele, não pode ficar mentindo que não deseja mais ser. Mas disse que hoje as circunstâncias recomendam muita prudência e cautela.

Mais uma vez desestimulando a eventual candidatura de Campos, Ciro acabou atacando novamente a aliança PT-PMDB. Disse que a grande tarefa do PSB é tensionar dentro da aliança que sustenta a presidente Dilma por uma agenda de mudança e por uma conduta mais republicana da média dos aliados, principalmente no PT e PMDB.

- Qual é o cimento? O que é que nos coeziona? Fisiologia, quando senão, roubalheira - atacou.

Esperado para a festa, Kassab não apareceu

Dirigentes de quase todos as siglas da base prestigiaram o ato. O presidente da República, Marco Maia (PT-RS), representou a presidente Dilma. Ele disse que deve muito ao partido de Campos, que o ajudou na sua eleição para presidente da Câmara.

Também compareceram o presidente do PT, Rui Falcão, os ministros Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Alexandre Padilha (Saúde) e representantes de partidos socialistas e comunistas de vários países. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, grande aliado do PSB, não compareceu.

De manhã, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, reforçou a defesa da aliança com o governo federal:

- É natural que quem constrói um partido, e que tem mandato como Eduardo Campos, se fortaleça. Mas nossa prioridade agora é o compromisso em dar apoio a presidente Dilma. (Maria Lima)