Título: Dilma cobra fidelidade para aprovar DRU até dia 22
Autor: Lima, Maria; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 06/12/2011, O País, p. 9

Presidente quer líderes monitorando partidos da base para evitar surpresas que ameacem votação estratégica

BRASÍLIA. Para evitar novas surpresas que coloquem em risco a aprovação da Desvinculação das Receitas da União (DRU) até o próximo dia 22, a presidente Dilma Rousseff fez ontem uma reunião de coordenação ampliada para dar uma ordem unida: que líderes e ministros políticos monitorem e cobrem fidelidade dos seus partidos no Senado. O monitoramento é especial em cima de oito senadores aliados que assinaram emendas da oposição ao texto original da DRU, mecanismo que permite ao governo mexer livremente em 20% de suas receitas e considerada fundamental pela presidente para enfrentar a crise econômica.

Se a oposição conseguir apoio de 27 senadores e apresentar emenda à DRU, a proposta volta para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), impedindo que a votação seja concluída dia 22. A emenda da oposição já chegou a ter 28 assinaturas, mas os senadores Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Paulo Davin (PV-RN) retiraram apoio, a pedido do governo.

Para não ficar só na cobrança, Dilma autorizou que ministros e líderes estudem o atendimento de pleitos pontuais dos aliados e alguma compensação na área de Saúde, para evitar a aprovação da Emenda 29, que aumenta de 7% para 10% da receita da União os gastos no setor.

No esforço de sair da agenda de denúncias e de se concentrar nas votações do Congresso, a presidente sequer mencionou, na reunião de coordenação de governo, na manhã de ontem, a demissão de Carlos Lupi ou as novas denúncias divulgadas pelo GLOBO envolvendo o ministro da Indústria e Comércio, Fernando Pimentel.

Para evitar atrasos na DRU, o governo vai ter que negociar com aliados. O senador peemedebista Ricardo Ferraço (ES), por exemplo, assinou a emenda da oposição, mas pode retirar se o ministro da Fazenda, Guido Mantega, atender seu pedido de flexibilização de um projeto do governo que reduz o ICMS para importação e prejudica legislação específica do Espírito Santo sobre transações nos portos do estado.

- Vou jogar o jogo. Não tenho como ficar vendo meu estado ser massacrado e não me movimentar, não reagir politicamente. Não tenho, e não vou. O que estou colocando na pauta de negociação não é um assunto de interesse pessoal. É um assunto que vai trazer um enorme prejuízo para quem me deu o mandato e vai desorganizar um setor que levamos anos para organizar - disse Ferraço.

Segundo o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), Mantega ficou de dar uma resposta sobre uma compensação para o Espírito Santo.

- Se houver emenda à DRU e a matéria voltar para a CCJ, provavelmente haverá convocação extraordinária do Congresso, porque a aprovação dessa matéria é altamente relevante para o governo - disse Jucá.

Mantega negocia mais recursos para a Saúde

Em outra ponta, Mantega negocia uma fonte alternativa de mais recursos para a Saúde, dentro do Orçamento, para convencer os senadores da base inclinados a votar a favor do aumento do repasse da União. Os governistas estão conversando com a oposição.

- O Jorge Viana me ligou hoje dizendo que estão tentando alguma coisa. Mas se não tiver uma coisa consistente, vamos pro pau. A única coisa que podem conseguir é passar um melzinho na boca da turma deles, que precisa de um discurso para justificar em suas bases o recuo nos 10%. Mas se o governo acenar com alguma coisa, a oposição pode rever a estretégia - disse o líder do DEM, senador Demóstenes Torres (GO).

O governo tenta negociar com a oposição, porque a outra alternativa é retirar o regime de urgência da proposta de regulamentação da Emenda 29, o que exige uma votação no plenário, o que já anteciparia a discussão sobre o mérito, tudo que o governo não quer neste momento.