Título: Brasileiros estudarão interior da Antártica
Autor: Motta, Cláudio
Fonte: O Globo, 07/12/2011, Ciência, p. 38

Cem anos depois da conquista do Polo Sul, cientistas instalam módulo que vai enviar dados meteorológicos

Daqui a uma semana, a conquista do Polo Sul completará cem anos. Enquanto o mundo estiver celebrando o feito do norueguês Roald Amundsen, um grupo de 15 cientistas brasileiros, além de dois chilenos, estará prestes a iniciar a expedição Criosfera. Um módulo de pesquisas do Brasil será instalado a aproximadamente 670 quilômetros de distância do Polo Sul geográfico.

O equipamento ficará a 2,5 mil quilômetros (a mesma distância que separa o Rio de João Pessoa) ao sul da estação antártica brasileira Comandante Ferraz, na Ilha Rei George. O módulo enviará dados para o Brasil por pelo menos quatro anos, marcando nova fase do programa antártico brasileiro, criado há três décadas. Até então, as pesquisas eram voltadas para o ambiente marinho e costeiro, explica Jefferson Cardia Simões, diretor do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que lidera a expedição.

- Faremos vários estudos, mas dois são considerados mais importantes. Vamos tentar detectar sinais de queimadas na Antártica - diz Simões. - E faremos uma perfuração de 150 metros de profundidade, que permitirá saber as condições de temperatura de até 500 anos atrás. Esta pesquisa faz parte de um consórcio de 22 países.

Os pesquisadores sairão do Rio na sexta e vão até Porto Alegre. De lá, a equipe partirá para Punta Arenas (Chile) e deverá chegar à Antártica dia 16 de dezembro.

Desafio de enfrentar temperaturas de até 36 graus

Os brasileiros encontrarão condições meteorológicas duras. Na estação Comandante Ferraz, a temperatura média é 3 graus negativos. Na nova base, 36 graus negativos.

- É perrengue. Sempre me pergunto: o que estou fazendo aqui? - conta a professora de geografia da UFF Rosemary Vieira - Será a segunda expedição para o interior. A primeira foi em 2008/2009, no deserto de Cristal, e eu também participei.

A expedição é 100% financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e custará cerca de R$2,5 milhões. Seu nome, criosfera, significa a massa de gelo e neve que cobre 10% do planeta e tem papel essencial no controle do clima e das correntes atmosféricas eoceânicas.

- A criosfera é tão importante quanto a Amazônia no controle do planeta. E 90% do volume de gelo e neve está na Antártica, que está logo ali e influencia a criação de frentes frias - conclui Simões.