Título: Mantega admite que não é possível crescer 3,8% e promete crédito barato
Autor: Beck, Martha; Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 07/12/2011, Economia, p. 31

Em nota não assinada por Tombini, BC diz que PIB é compatível com IPCA de 2012

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tentou passar a mensagem de que o quadro é passageiro, mas admitiu ontem que a estagnação do Produto Interno Bruto (PIB) torna impossível que a economia cresça este ano os 3,8% que o governo esperava. Ele lembrou que os dados mostram que o atual ritmo de crescimento econômico é de 3,2%, percentual que deve se confirmar para 2011. Mas assegurou que haverá novas ações para ampliar o crédito no país e disse que o PIB de 2012 crescerá entre 4% e 5%.

- O quadro (de estagnação) é reversível. Vamos seguir na trajetória de flexibilização do crédito. Baratear o crédito é a nossa principal estratégia - disse Mantega. - O crescimento que temos agora é de 3,2%. Isso pode dar alguma pista do que poderá ser este ano. Uma taxa de 3,8% não é mais alcançável.

Já o BC divulgou uma nota, que não foi assinada por seu presidente, Alexandre Tombini, na qual destaca o desempenho do PIB em 12 meses. O texto afirma ainda que a economia está crescendo a um ritmo sustentável e compatível com a convergência da meta de inflação ao centro de 4,5% pelo IPCA em 2012.

"Não acho que o governo pisou demais no freio"

Segundo o comunicado do BC, o consumo das famílias, que avançou 5,4% em 12 meses, ainda é o principal suporte da economia, graças à expansão moderada do crédito e à geração de emprego e renda. "Os sólidos fundamentos e um mercado interno robusto constituem um diferencial da economia brasileira e sugerem perspectivas favoráveis para a atividade, mesmo diante do complexo ambiente internacional."

O BC foi responsável pelas ações oficiais que mais travaram a economia: a alta dos juros entre janeiro e julho e as medidas de restrição ao crédito adotadas em dezembro de 2010. Essa política foi endossada por Mantega, mas teve a oposição de parte da própria equipe econômica, que achava que o freio era forte demais.

A disposição de Mantega - que convenceu a presidente Dilma Rousseff - para um ajuste fiscal robusto, que reduziu fortemente o ritmo dos desembolsos até com investimentos, também foi alvo de crítica.

Mantega reconheceu que o resultado do terceiro trimestre foi uma combinação do agravamento da crise internacional com as medidas de contenção do crédito adotadas pelo governo para segurar as pressões inflacionárias no início do ano. Mesmo assim, o ministro disse não acreditar que tenha havido exagero:

- Não acho que o governo pisou demais no freio. O que foi inesperado foi o agravamento da crise internacional, que não existia quando começamos a desacelerar a economia. Isso teve alguma repercussão. Embora a crise não tenha um efeito direto na população, você fica lendo as notícias todo dia de que a coisa está feia, de que as pessoas estão perdendo os empregos, e isso afeta as expectativas.

Sobre os analistas de mercado que têm projeções mais pessimistas para a economia no ano que vem, ele afirmou:

- O quadro (de desaceleração) é reversível, o crédito é controlado pelo governo. Aqueles que preveem 3% para 2012 estão equivocados e não levam em consideração as peculiaridades e o dinamismo da economia brasileira.

Ministro evita falar sobre novos cortes de juros

Mantega admitiu que o desempenho do PIB brasileiro no terceiro trimestre foi mais fraco que o da zona do euro, epicentro da crise atual. Mas ele ressaltou que o quadro é passageiro e o que crescimento da economia em 2011 será muito superior ao desses países:

- Este ano, vamos crescer pelo menos o dobro do que os países europeus e que os Estados Unidos. E a partir do ano que vem, voltaremos a crescer a taxas ainda mais elevadas.

O ministro evitou comentar diretamente se há espaço para mais cortes de juros pelo BC. Mas, ao ser perguntado sobre o assunto, lembrou que o mercado já trabalha com taxas em torno de 9,8%. Os cortes, de 0,5 ponto percentual, foram retomados em agosto e se repetiram em outubro e novembro.

- O mercado acha que as taxas de juros vão continuar caindo. Mas se isso vai acontecer, você deve perguntar ao Banco Central - afirmou.

Mantega também admitiu que o governo deverá reforçar o capital dos bancos públicos para dar mais fôlego ao crédito, como antecipado pelo GLOBO na segunda-feira.

- Assim como os bancos privados, os bancos públicos têm de ter um certo volume de capital em relação ao que emprestam. É normal que praticamente todo ano exista aumento de capital das instituições públicas brasileiras.