Título: Indústria puxa a economia para baixo, junto com o investimento
Autor: Gomes, Wagner
Fonte: O Globo, 07/12/2011, Economia, p. 28

Produção fabril recuou 0,9%. Construção civil manteve crescimento

Wagner Gomes, Fabiana Ribeiro, Mariana Durão e Henrique Gomes Batista

SÃO PAULO e RIO. A indústria foi o setor que mais sofreu neste terceiro trimestre. Com a maior queda entre os grandes segmentos, reduziu a produção de 0,9% entre julho e setembro, em relação aos três meses anteriores. Concorrência dos importados, redução no crédito depois das medidas restritivas tomadas pelo governo e aumento de juros são as explicações para esse resultado. Pelos dados divulgados ontem pelo IBGE, a queda da indústria no terceiro trimestre foi puxada pelo setor de transformação (excluindo a extração mineral), cuja produção recuou 1,4% sobre o segundo trimestre.

As demais atividades industriais registraram variações positivas na mesma comparação: extrativa mineral (alta de 0,9%); eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (0,8%) e construção civil (0,2%).

Os dados anêmicos da indústria ajudaram a reduzir o investimento, que caiu 0,2% na comparação trimestral. E a desaceleração frente ao mesmo período do ano passado ficou flagrante. Nos três primeiros meses do ano, crescera 11%. No terceiro trimestre, a taxa ficou em 2,5%. Além disso, a fraqueza da indústria atinge outros setores:

-A Indústria de transformação afeta bastante alguns serviços como o comércio atacadista e o transporte de cargas - afirmou Rebeca Palis, do IBGE.

Mas houve exceções como a construção civil, que cresceu 0,2% e puxou fortemente os investimentos do país no terceiro trimestre, mas não o suficiente para a formação bruta de capital fixo ficar positiva.

- A construção tem políticas específicas como PAC, "Minha casa, Minha vida", além de viver momento favorável com Copa e Olimpíadas - explicou Rebeca.

Indústria está produzindo o mesmo de setembro de 2008

O economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza, acredita que há um freio no consumo e nos investimentos das indústrias:

- A economia enfraqueceu e a indústria sofreu o efeito dessa desaceleração provocada pelas medidas de restrição ao consumo adotadas pelo governo. Houve ainda a concorrência dos importados e o câmbio desfavorável, que tirou a competitividade das empresas.

O professor Antônio Corrêa de Lacerda, da PUC-SP, preocupa-se com a fraqueza da indústria, que se reduz muito. Ele lembra que, em setembro de 2011, a atividade industrial está no mesmo patamar de setembro de 2008. Para resolver isso são necessárias medidas que incentivem o investimento, que vão além do estímulo à demanda. O professor defende aumento de competitividade com redução da carga tributária para os investimentos, melhor situação cambial e redução efetiva dos juros, não apenas da Selic.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) endossam o diagnóstico. Em nota, a CNI informou que a desaceleração da economia já era esperada pelo comportamento de outros indicadores, mas disse que é preocupante a queda na indústria de transformação. A estagnação da economia levará a CNI a rever para baixo suas projeções para o crescimento em 2011, hoje em 2,2% para a indústria e de 3,4% para o PIB.

Ainda de acordo com a entidade, o recuo do PIB industrial reflete a perda de competitividade do setor, provocada pela valorização cambial e pela falta de uma política nacional de redução dos custos de produção, além da crise internacional.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Milton Cardoso, disse que o setor está sofrendo demais com a concorrência de produtos chineses. Segundo ele, a produção vem caindo desde o início do ano. A queda foi de 10% em agosto e setembro e 11% em outubro.

- O mercado está andando de lado. Sofremos muito a concorrência dos produtos chineses que chegam ao Brasil pelo Vietnã e pela Malásia, países que têm uma produção pequena de calçados - disse Rafael Schefer, diretor de mercado da West Coast, fabricante de calçados de Ivoti, no Rio Grande do Sul.