Título: Governo errou na mão?
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 07/12/2011, Economia, p. 27
Economistas dizem que aperto foi necessário
A economia estagnou no terceiro trimestre. Ainda que a desaceleração fosse previsível pelos economistas e pelo governo, e, para alguns, até mesmo desejável, resta a dúvida se o governo teria pesado na mão ao adotar, na virada do ano, medidas restritivas ao crédito, associadas a doses adicionais de juros para combater a inflação e conter a demanda aquecida. No primeiro trimestre deste ano, o PIB crescera 4,2% frente ao início de 2010, e a taxa caiu à metade no terceiro trimestre.
Em uníssono, economistas de diferentes tendências respondem que não foi culpa do governo o resultado estagnado do PIB no terceiro trimestre. Separados por visões distintas de escolas econômicas, eles concordam que a inflação lá atrás era o inimigo comum e era precisava ser domada antes que fosse tarde.
- Não dá para olhar uma criança com uma doença grave e ignorar. É o mesmo com a inflação, que estava dando sinais de descontrole. Ao frear a economia, o governo pôs a inflação nos trilhos e a consequência está sendo sentida agora, com o desaquecimento da economia - analisou o consultor Joaquim Elói de Toledo.
Questionado se o governo teria errado na mão, o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, respondeu que não:
- Foi um aprendizado. O governo tomou as decisões corretas em função do cenário internacional da época, que depois acabou se agravando.
O professor Antônio Correa de Lacerda, da PUC-SP, concorda com Elói e com Leal:
- Naquele momento o governo estava preocupado com a inflação.
Lacerda está convencido de que o governo acertou duplamente: primeiro em controlar a inflação e depois, em agosto último, optar por reduzir os juros:
- O mundo mudou muito rapidamente e o governo foi pego no contrapé. Ele precisava agir.
O professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, preferiu responder a pergunta sobre se teria havido ou não erro do governo afirmando que "fazer política econômica é sempre uma escolha de Sofia":
- Sempre existe uma defasagem. As medidas adotadas lá atrás, para conter a inflação, estão surtindo efeito agora, quando a crise internacional recrudesceu.
Já Eduardo Velho, da Prosper Corretora, está convencido de que "o pior já passou". E concluiu afirmando que o "governo reagiu rápido adotando medidas que evitassem o pior". (Liana Melo, Mariana Durão, Henrique Gomes Batista e Fabiana Ribeiro)