Título: Um debate esvaziado
Autor:
Fonte: O Globo, 07/12/2011, O País, p. 17

Audiência sobre limitações à propaganda de cigarros atrai 450 a espaço para 15 mil

BRASÍLIA. Sobraram milhares de lugares no local escolhido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para discutir novas limitações na propaganda dos derivados do tabaco. O encontro foi realizado no ginásio Nilson Nelson, com capacidade para 15 mil pessoas. Compareceram apenas 450, a maior parte produtores e plantadores de fumo da região Sul. A audiência foi um duelo entre a indústria do cigarro e representantes de entidades médicas.

O debate se realizaria em um auditório pequeno, mas a indústria do tabaco foi à Justiça com o argumento de que a relevância do assunto exigiria um lugar maior, com capacidade para pelo menos mil pessoas. A Justiça concedeu a liminar, e a Anvisa escolheu o ginásio.

Cinco ônibus do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina transportaram os plantadores de fumo. Essa região concentra toda a produção nacional que abastece as indústrias.

No debate, revezaram-se defensores das restrições ao consumo do tabaco e os contrários a essas limitações. O cardiologista Márcio Souza, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, afirmou que o fumo faz milhares de vítimas e que metade dos consumidores sofre doenças graves e que levam ao óbito.

- É um gravíssimo problema de saúde e que merece toda a atenção do governo - disse Márcio Souza.

Carlos Galante, da Associação Brasileira do Fumo, disse que as medidas propostas ferem a Constituição.

- As restrições previstas, se forem implementadas, vão atentar contra a livre iniciativa e a liberdade de expressão. A proibição da exposição dos cigarros nos comércios não vai reduzir o consumo. E mais: vai estimular o mercado negro - argumentou Galante.

Euzébio Burin, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Barros Cassal (RS), disse que o governo é duro com o setor do tabaco:

- Por que não agem duro assim com a maconha? (Evandro Éboli)