Título: Alemanha não abre mão de novo tratado do euro
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Fonte: O Globo, 08/12/2011, Economia, p. 32
Merkel insiste em disciplina fiscal e se opõe a uso conjunto de fundos. Sarkozy diz que moeda única pode "explodir"
Do El País*
MADRI, LONDRES e PARIS. Às vésperas de uma importante reunião de cúpula dos líderes da zona do euro, a Alemanha alertou ontem seus parceiros europeus sobre a necessidade de um novo tratado para a União Europeia (UE), ou pelo menos para a zona do euro. Para o governo da chanceler alemã, Angela Merkel, este é o único caminho para garantir a estabilidade da moeda única e acalmar os investidores. Segundo o jornal britânico "Financial Times", uma alta fonte do governo o país confirmou que Berlim rejeitou a sugestão do presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, de que seria possível forçar maior disciplina fiscal apenas por meio de legislação secundária.
"É preciso um passo decisivo para reestruturar a zona do euro", disse a fonte, que pediu para não ser identificada. "Não podemos fazer isso apenas com uma série de pequenos passos".
Além disso, o governo é contra uma proposta que está sendo discutida em Bruxelas, de aumentar o colchão financeiro da zona do euro por meio da combinação dos 440 bilhões do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), que é provisório, com os 500 bilhões do Mecanismo Estabilidade Financeira (MEF), que é permanente.
Ao mesmo tempo, o governo francês divulgou ontem uma cópia da carta enviada a Van Rompuy, com as sugestões propostas por Merkel e pelo presidente Nicolas Sarkozy para salvar o euro. Na carta, os líderes das duas maiores potências econômicas da zona do euro propõem um novo tratado para a região.
"O risco de explosão (do euro) é predominante se as decisões tomadas com Angela Merkel não se efetivarem", afirmou ontem o presidente francês, segundo o jornal "Le Monde".
S&P pode rebaixar todos os países da União Europeia
Segundo o "Financial Times", uma das propostas em discussão prevê a concessão, à Corte de Justiça, do poder de impor a chamada "regra de ouro" a todos os países da zona do euro, obrigando-os a adotar orçamentos equilibrados. Propõe ainda sanções automáticas, que serão aplicadas se as nações não respeitarem as regras de redução de dívida e déficit públicos.
A agência de classificação de risco Standard&Poor"s (S&P) informou ontem que colocou a nota de crédito da UE em revisão, com perspectiva de um possível rebaixamento. O anúncio coloca em risco o rating do bloco, que atualmente é "AAA". Esta semana, a S&P já havia colocado em revisão negativa a nota de 15 dos 17 países da zona do euro. O bloco da UE reúne 27 países, sendo 17 da zona do euro e outros dez que não adotaram a moeda única.
O ministro francês de Finanças, François Baroin, reuniu-se ontem com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, que está pressionando os países da zona do euro a chegarem a um acordo definitivo para encerrar a crise na região. Baroin garantiu que os líderes não encerrarão o debate até que haja um acordo.
Os mercados financeiros fecharam ontem no vermelho com investidores preocupados com a cúpula da UE, que começa hoje com os ministros e termina amanhã com os chefes de Estado, em Bruxelas, para discutir saídas para a crise da região. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou 1,47%, aos 58.662 pontos pelo Ibovespa, seu principal índice. Já o dólar comercial avançou 1,47%, cotado a R$1,791.
Oposição de Merkel a uso de fundo decepciona mercados
O balde de água fria veio com o governo alemão descartando o uso simultâneo do Feef e do MEF. Os mercados tinham avançado na terça-feira especulando sobre essa atuação. Na Europa, os mercados fecharam no vermelho: Londres (0,39%), Paris (0,11%) e Frankfurt (0,57%). Em Wall Street, o Dow Jones teve uma leve alta de 0,38%, e o Nasdaq encerrou estável, em queda de 0,01%.
No câmbio, o Banco Central (BC) divulgou ontem que o Brasil amargou, entre os dias 28 de novembro e 2 de dezembro, uma forte saída de moeda estrangeira. O fluxo cambial foi negativo em US$1,8 bilhão, número elevado frente aos US$942 milhões no vermelho de todo novembro. Segundo o BC, a maior parte do resultado deveu-se ao comércio exterior, que teve saída líquida de US$1,3 bilhão. Este era o setor que sustentava o desempenho nas últimas semanas.
Nos EUA, dezenas de manifestantes do movimento Ocupem Wall Street foram presos durante protestos, que bloquearam ruas da capital.
(*) Com agências internacionais