Título: Aliados derrubam convocação de Pimentel
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 08/12/2011, O País, p. 9

Oposição pede investigação no MP e na Comissão de Ética Pública e lembra que ministro é da cota de Dilma

BRASÍLIA. Por orientação da presidente Dilma Rousseff, os pedidos da oposição para convocar o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, tiveram tratamento diferente. Ontem, os líderes governistas no Congresso derrubaram todos os requerimentos, sem abrir espaço para transformar convocação em convite, como fizeram, por exemplo, no caso do ex-ministro Carlos Lupi e de outros ministros demissionários. Atropelada pela maioria governista, a oposição apelou para pedidos de investigação contra o ministro, encaminhados ontem ao Ministério Público e à Comissão de Ética Pública.

A batalha começou logo cedo na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, quando foi rejeitado por 13 votos a 5 o requerimento apresentado pelos deputados tucanos Duarte Nogueira (SP) e Nilson Leitão (MT), que pedia a convocação do ministro para prestar esclarecimentos sobre os serviços de consultorias mostrados pelo GLOBO.

O líder tucano Duarte Nogueira, ao defender na comissão que o ministro deve explicações detalhadas ao Congresso, lembrou que Pimentel é muito ligado à presidente Dilma.

- O ministro Pimentel, diferentemente dos outros ministros que caíram, é da cota pessoal da presidente Dilma. Eles são amigos de longa data. Não pode pairar sobre o ministro Pimentel qualquer suspeição de tráfico de influência. Pimentel, em 2010, atuava na campanha da presidente Dilma. Tem o dever de vir aqui e prestar esclarecimento. Se prestou assessoria, tem que mostrar que fez sem tráfico de influência - afirmou o deputado tucano, salientando ainda a semelhança do caso de Pimentel com o do ex-ministro Antonio Palocci, que, em quatro anos, teve seu patrimônio ampliado em 20 vezes, como resultado de serviços de empresa de consultoria.

- Se o ministro Pimentel não vier aqui se desculpar, a presidente Dilma deve se desculpar com o Palocci e chamá-lo de volta ao governo - acrescentou o líder do PSDB.

A base aliada compareceu em peso à comissão da Câmara e, na defesa de Pimentel, usou como argumento o fato de que as denúncias se referem a atividades privadas do ministro.

- Não há ato do ministro Pimentel a ser investigado. A oposição vem com a tese do "vale a pena ver de novo", como na novela. É o desejo da oposição convocar o ministro. O ministro se dispõe a vir nesta comissão para tratar de assuntos pertinentes à sua pasta. Mas este não é o roteiro que deseja a oposição. Por isso, o governo orienta o voto "não" - disse o vice-líder do governo, Odair Cunha (PT-MG).

No Senado, requerimentos nem chegaram a ser votados. Duarte Nogueira e o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), protocolaram, então, representação no Ministério Público pedindo abertura de inquérito para apurar prática de improbidade administrativa do ministro Fernando Pimentel. O documento cita reportagens do jornal O GLOBO que revelaram que a empresa de Pimentel recebeu cerca de R$2 milhões em consultorias prestadas a empresas relacionadas com a prefeitura de Belo Horizonte.

"Já não são dois os contratos, mas sim três", argumentam os tucanos na representação, afirmando que o faturamento da consultoria já supera R$2 milhões. "Impossível sabermos onde esta conta irá parar!", diz o texto da representação.

Os parlamentares também enviaram pedido à Comissão de Ética da Presidência da República para abertura de processo administrativo para apuração da conduta do ministro: "Percebe-se que o representado faltou com a ética e o decoro que o cargo por ele ocupado exige, devendo, por essas razões, ser objeto de processo de ética e disciplina perante essa corte especial", diz o texto. A comissão volta a se reunir somente em 2012, ainda sem data marcada.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, solidarizou-se com Pimentel e disse que tem confiança em seu colega. Já a presidente Dilma Rousseff, que participou do lançamento do programa "Crack, é possível vencer", saiu da solenidade sem falar com a imprensa.

- Eu, pessoalmente, tenho uma confiança muito grande no ministro Pimentel. Ele já prestou esclarecimentos, são situações que obviamente não dizem respeito à sua atuação como homem público, mas dizem respeito à sua atuação como pessoa privada. Portanto, a minha confiança no ministro Pimentel é total e integral, como sempre foi - disse Cardozo.