Título: Maioria é contra a divisão do Pará
Autor: Carvalho, Cleide
Fonte: O Globo, 10/12/2011, O País, p. 16

Segundo pesquisa Datafolha, criação de novos estados é rejeitada por mais de 60% dos paraenses

? BELÉM (PA). A maioria dos eleitores do Pará é contrária à divisão do estado, de acordo com a terceira rodada de pesquisas do Instituto Datafolha, divulgada ontem. A criação do estado de Tapajós foi rejeitada por 64% dos entrevistados, enquanto 65% dos eleitores foram contrários à fundação do estado de Carajás. Em relação à última pesquisa, realizada em 24 de novembro, a rejeição à divisão aumentou. Na ocasião, 61% rejeitavam a criação do Tapajós, e 62% eram contra a criação do Carajás.

O levantamento, encomendado pelas TVs Liberal e Tapajós, foi realizado entre os dias 6 e 8 de dezembro em 53 municípios, e ouviu 1.213 pessoas. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

Os eleitores que defendem a divisão do Pará representam cerca de um terço dos entrevistados: 32% são a favor de Tapajós e 31% defendem Carajás. Nos dois casos, o número de indecisos é o mesmo: 4%.

Por causa de feriado, abstenção pode ser alta

A quantidade de abstenções no plebiscito deste domingo no Pará é considerada decisiva para o resultado das urnas. O feriado de Nossa Senhora da Conceição, na última quinta-feira, levou muitos moradores de Belém e dos municípios do entorno da capital a saírem de suas cidades, o que preocupa os partidários do “não” à criação dos estados do Tapajós e do Carajás. Já as prefeituras das regiões interessadas na divisão não decretaram feriado e nem ponto facultativo, temendo a debandada dos eleitores para praias e balneários.

As frentes calculam em 3,2 milhões de eleitores na área do Novo Pará, onde a maioria vota pelo “não”. Em Tapajós são 730 mil e, em Carajás, 960 mil votantes.

— Acreditamos na vitória, mas ela será apertada. Temos chance de ganhar, ao contrário do que muitos dizem — afirma Edinaldo Bernardo, presidente do Comitê Pró-Tapajós em Santarém.

Já o deputado estadual Celso Sabino, da frente contra a divisão do Pará, mostrou-se receoso com o total de faltosos no plebiscito de amanhã.

— Nossa preocupação é com a abstenção, por causa do feriado. Vamos trabalhar até o último momento possível — diz ele, que, para tentar mobilizar a população, agendou uma carreata para a manhã de hoje.

Em geral, a abstenção ultrapassa 20% na Região Metropolitana de Belém. Mas partidários da criação dos novos estados acreditam que o total de eleitores que faltarão às urnas pode atingir 30%, o que garantiria a vitória do “sim”.

Bernardo diz que a campanha pelo “sim” avançou nas últimas semanas. A greve dos professores do estado, que não conseguiram reajuste de R$ 65 nos salários, teria funcionado como a favor da separação, mostrando uma incapacidade do governo do Pará de gerir um estado grande e desprovido de recursos.

— A ilha do Marajó é um lugar de muita miséria. Não acreditamos que as pessoas lá votem todas contra os novos estados. Mas só saberemos nas urnas, porque as pesquisas não atingem boa parte dos eleitores distantes da capital — observa Bernardo.

Secretário-executivo da Associação dos Municípios do Araguaia, Tocantins e Carajás, o economista fez as contas e diz que o resultado, tanto para um quanto para outro, pode ser apertado.

Manifestação a favor da divisão no Rio Amazonas

Em Santarém, cerca de 400 canoeiros fecharam ontem um trecho do Rio Amazonas, em frente ao porto, para impedir a passagem de navios de transporte de bauxita de Trombetas, mas a manifestação, promovida por favoráveis à criação do estado do Tapajós, foi pacífica. Em Eldorado dos Carajás, manifestantes prometeram fechar hoje a ferrovia da Vale do Rio Doce e a antiga rodovia PA-150 para exigir a criação do estado.

Em linhas gerais, a tese defendida pela frente separatista é a de que os municípios localizados nas regiões sul, sudeste e oeste do Pará estão esquecidos e carentes de políticas públicas. Já a frente contrária à divisão reconhece os problemas existentes no interior, porém, aposta na descentralização da gestão para minimizar os problemas. ?

COLABOROU: Evandro Corrêa