Título: Militar quer impedir Comissão da Verdade
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 12/12/2011, O País, p. 14

Ex-integrante do Doi-Codi entra com a primeira ação na Justiça contra o grupo

BRASÍLIA. Integrante do núcleo de oficiais do comando do Doi-Codi de São Paulo no início dos anos 1970 e apontado em listas de vítimas da ditadura como um torturador daquele período, o coronel reformado Pedro Ivo Moézia de Lima entrou com ação popular na Justiça Federal de Brasília para impedir a criação da Comissão da Verdade, sancionada pela presidente Dilma Rousseff em novembro. É a primeira ação judicial com o intuito de barrar a criação do grupo, que terá o poder de investigar casos de violação de direitos humanos ocorridos durante a ditadura, mas não de puni-los.

O militar argumenta na ação que a Comissão da Verdade é inconstitucional e que só visa a satisfazer um lado, o da esquerda. Diz que a instalação da comissão é um ato de "revanchismo".

- Querem nossas cabeças de bandeja. Vou enfrentar - disse em entrevista ao GLOBO, em sua residência, em Brasília.

O militar faz duras críticas ao atual Comando do Exército, que, para ele, não defende os militares daquela época e não se opõe à Comissão da Verdade - cuja apuração não poderá ser usada para processar os responsáveis pelos abusos.

- O que fizemos foi cumprir ordens. Não agimos ao nosso bel prazer - disse o coronel ao GLOBO.

Em mensagem enviada a outros militares, por e-mail, Moézia foi mais contundente: "O Exército está abandonando seus companheiros no front. Um Exército de homens covardes, de comandantes frouxos". Durante a entrevista, ontem, Moézia ligou para o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou o Doi-Codi naqueles anos. Os dois são muito próximos.

Quando capitão, Moézia participou de mais de cem ações contra opositores do regime: estouros de aparelhos, prisões, perseguições e tiroteios. O coronel, de 73 anos, foi do 4º Regimento de Infantaria entre 1965 a 1973. Ele nega que tenha torturado alguém, mas conta que participou de "interrogatórios duros".

- Nunca toquei a mão em ninguém - disse.