Título: Em 2010, 35 mil assassinatos por armas de fogo
Autor: Benevides, Carolina
Fonte: O Globo, 13/12/2011, O País, p. 11

Secretário-executivo do Ministério da Justiça diz que dado é “preocupante” e aposta no desarmamento para reduzir mortes

● Dados do Ministério da Saúde apontam que 35.233 pessoas morreram, em 2010, assassinadas por armas de fogo. O número corresponde a 70,5% dos 49.932 homicídios cometidos no Brasil, no ano passado. Se forem levados em conta os acidentes, mortes de intenção indeterminada e suicídios, o número chega a 38 mil. Os dados, que ainda são preliminares, mostram uma queda no número de mortes em relação a2009, quando foram registrados 36,6mil assassinatos por armas de fogo. No entanto, para Luiz Paulo Barreto, secretário-executivo do Ministério da Justiça, o número ainda é “preocupante”: — Desde 2004, com a intensificação da Campanha do Desarmamento, o número vem caindo, mas ainda é bastante alto e preocupante— diz Barreto, lembrando que as mortes por armas de fogo não são apenasasdos“crimes convencionais”: — Acontecem acidentes domésticos, quando uma criança acaba encontrando a arma, brigas de bar,no trânsito, entre vizinhos e até os crimes passionais. São pessoas que não eram criminosas, mas num momento de exasperação, com a arma na mão, atiram e causam um dano social grande.

Entre 2004 e 2010, homicídios caíram 11%

De acordo com Barreto, para que onúmero caia ainda mais o Ministério da Justiça tem uma “tarefa gigantesca”: —Houve uma redução de 11% no número de homicídios entre 2004 e 2010. Conseguimos quebrar a linha ascendente, mas para mudar essa realidade, para reduzir os núme-ros, é preciso reforçar a Campanha de Desarmamento para a sociedade civil, aumentar a fiscalização nas ruas eopoliciamento nas fronteiras. Segundo dados do Ministério da Justiça, entre 2004 e 2010, a Campanha do Desarmamento, criada a partir do Estatuto do Desarmamento, recolheu, em todo o país, quase 1milhão de armas. Este ano, em sete meses, foram entregues 35 mil armas. O Brasil tem pouco mais de 2.860 postos de recolhimento. — Ter aumentado a capilaridade do programa, ter feito com que as indenizações, entre R$ 100 e R$ 300, fossem pagas em 24 horas, além de termos permitido que as entregas fossem anônimas foram medidas importantes. O anonimato fez com que 91 fuzis fossem entregues este ano —conta Barreto. Segundo ele, 80% das armas apreendidas são de fabricação nacional. — Isso nos mostra que não adianta só policiar as fronteiras para reduzir a entrada de armas. Para diminuir o número de mortes, é preciso também que estados e municípios trabalhem em conjunto para fiscalizar o cidadão comum. A fiscalização pode impedir que as pessoas saiam armadas, além de permitir que a polícia prenda uma pessoa porque ela está armada, mas antes de cometer o crime — diz Barreto, que alerta ainda para estudos que mostram que pessoas que possuem armas e reagem, por exemplo, a um assalto raramente têm sucesso: —Aspessoastêmarmas,mas nem sempre fazem manutenção, muitas vezes amunição está vencida, muita gente nem sabe usar ou não tem preparo mesmo para isso. Então, reagir geralmente acaba em desastre. ■