Título: Algum avanço na questão do clima
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Fonte: O Globo, 13/12/2011, Opinião, p. 6

A reunião da ONU sobre mudanças climáticas não trouxe apenas desapontamento. A COP-17, que avançou quase dois dias além de sua duração prevista, em Durban, na África do Sul, conseguiu arrancar um compromisso inédito de Estados Unidos, China e Índia: os três maiores emissores de gases-estufa aceitaram negociar a elaboração de um documento com metas compulsórias de corte de emissões, enquanto o Brasil concordou em seguir metas de emissões. O verso da moeda: as negociações começarão em 2012 para que um acordo global possa ser costurado até 2015, com vigência a partir de 2020. O ponto fraco do compromisso são justamente os prazos, flexíveis demais diante da necessidade de uma rápida ação coordenada para frear o aquecimento global e seu impacto ameaçador sobre o clima do planeta.

Importante vitória diplomática dos negociadores de 194 países reunidos em Durban foi afastar o fantasma do vácuo após expirar a validade do Protocolo de Kioto, no final do ano que vem. O único instrumento sobre questões climáticas com status de lei foi prorrogado até 2017, embora também aqui o avanço seja muito relativo: Japão, Rússia e Canadá abandonaram o compromisso, e EUA, China e Índia continuam de fora - o primeiro porque retirou a assinatura, os dois outros porque o Protocolo não incluiu metas de redução de emissões para países em desenvolvimento. Sendo assim, Kioto contempla apenas 15% das emissões globais.

O intenso esforço realizado em Durban teve outro mérito: afastar o risco de um colapso das negociações globais da ONU, o que esteve perto de acontecer diante do impasse geral que predominou em grande parte da COP-17. Ao final, a "Plataforma de Durban", nome do documento aprovado, pela primeira vez compromete todos os países com o corte das emissões de poluentes, embora nada seja para agora. Haverá um plano para guiar os países nas negociações até 2015, e será preciso um acordo também para substituir Kioto entre 2017 e 2020.

Para cientistas e ativistas sobre questões climáticas, os avanços da COP-17 foram muito pequenos ou quase inexistentes, pois alguns dos principais líderes mundiais continuam insensíveis à urgência da adoção de medidas para impedir que o aumento da temperatura ultrapasse os dois graus Celsius acima dos níveis pré-Revolução Industrial, na virada do século. Mas a nova posição de países como EUA, China e Índia mantém a esperança de que algo pode ser feito e aumenta a importância da próxima rodada sobre o clima, prevista para março em Bonn, na Alemanha, e para a COP-18, em dezembro de 2012, no Qatar.

Embora o foco da Rio+20, de 4 a 6 de junho de 2012, sejam economia verde e oceanos, ela abrirá oportunidades para que negociadores internacionais busquem novos ângulos e explorem novas oportunidades de consenso sobre questões vitais para a sobrevivência da humanidade. Como está a situação pós-Durban, a previsão para a virada do século é de uma elevação da temperatura de 3 a 4 graus Celsius, o que configuraria uma catástrofe planetária.