Título: Recomendei a venda dos navios da Vale
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 09/12/2011, Economia, p. 35
Presidente da mineradora revê estratégia do antecessor e diz que já negocia as embarcações com estrangeiros
O presidente da Vale, Murilo Ferreira, já tomou a decisão de vender todos os supernavios que a empresa encomendou na gestão anterior, de Roger Agnelli. Para o executivo, as embarcações "oneram o capital da Vale". Segundo ele, há negociações avançadas com uma empresa estrangeira para este fim. A companhia fez uma encomenda bilionária de 35 navios gigantes, com capacidade de 400 mil toneladas, dos quais 19 seriam de propriedade da Vale. Os demais seriam operados por terceiros. Até agora, apenas seis foram entregues, entre eles o Vale Beijing, que corria risco de afundar no litoral maranhense devido a rachaduras no lastro. Por telefone, Ferreira conversou com o GLOBO do Maranhão, onde se reuniu com a governadora Roseana Sarney.
O senhor esteve com a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, hoje (ontem). O assunto da conversa foi o navio Vale Beijing?
MURILO FERREIRA: Eu vim para cá em respeito ao povo do Maranhão. Embora o navio seja da STX (grupo sul-coreano responsável pela operação da embarcação afretada à Vale), achei que era importante eu vir. Tive uma conversa informal com a governadora.
Parte da diretoria da Vale participou esta semana de um evento na Bolsa de Valores de Londres, mas o senhor estava ausente na ocasião. O acidente fez o senhor alterar a agenda?
FERREIRA: Eu tinha esse compromisso em Londres e também um encontro no Pará. Até o fim de semana, eu ainda não havia decidido a que evento ir. Quando soube o que havia ocorrido com o navio, confirmei minha vinda ao Norte do Brasil. Queria me atualizar da situação.
Qual a situação atual do navio?
FERREIRA: A STX contratou a empresa holandesa Smith, uma das mais renomadas em reparos de navios. Essa empresa está fazendo todo o trabalho de manutenção da embarcação para que ela possa voltar a navegar. Já está acertado que serão retirados até amanhã (hoje) cerca de duas mil toneladas de bunker (combustível usado na indústria naval). Depois disso, a tendência é que os técnicos liberem o navio para que ele siga para o seu destino, em Roterdã, sem riscos.
As rachaduras já foram reparadas então?
FERREIRA:Não. O que aconteceu foi o seguinte: surgiram fissuras no tanque de lastro do navio quando ele estava ancorado (no terminal Ponta da Madeira, que pertence à Vale). Isso fez com que começasse a entrar água no tanque. Quando o tanque está cheio, o navio afunda. O problema é quando isso ocorre em uma área rasa. Para navegar, o tanque cheio não é problema (pois ele dá estabilidade à embarcação).
Mas o problema que ocorreu no Maranhão não poderá voltar a acontecer em Roterdã?
FERREIRA: Acredito que os técnicos, sabendo da existência das fissuras, vão tomar as providências para que o problema não se repita.
Foi o excesso de combustível que provocou as rachaduras?
FERREIRA: Ainda não sabemos o que causou as fissuras. A ideia é deixar o navio com bunker suficiente apenas para atingir seu destino e retirar o excesso. É uma medida preventiva.
A decisão de voltar a ter uma frota própria e encomendar supernavios no exterior foi tomada na gestão de Roger Agnelli. O senhor avalia que foi uma estratégia equivocada?
FERREIRA: Não gostaria de comentar as decisões do meu antecessor. O que fiz foi tomar a decisão de recomendar a venda dos navios de propriedade da Vale (19 dos 35 encomendados). Eles estavam onerando demais o capital da empresa. A companhia tem que focar seus investimentos em níquel, minério de ferro, cobre, carvão e fertilizantes, que é o que ela faz bem.
A empresa já negocia a venda dos navios?
FERREIRA:Já há negociações bastante avançadas com uma empresa estrangeira. Mas isso só será feito se tivermos a garantia de que os navios vendidos serão afretados à Vale por longo prazo.