Título: Ata da reunião do BC prevê inflação menor e novos cortes na taxa de juros
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 09/12/2011, Economia, p. 30

Para Copom, piora da crise internacional afetará economia brasileira

BRASÍLIA. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no ano reforçou a perspectiva dos analistas de que o Banco Central (BC) manterá nos primeiros quatro meses de 2012 o processo de redução dos juros básicos, podendo levá-los a 9,5% ao ano em abril, contra 11% hoje. Ao justificar o terceiro corte seguido de 0,5 ponto percentual na Taxa Selic, na semana passada, o Copom argumentou que a crise global piorou e deve afetar o crescimento da economia brasileira daqui em diante. Em contrapartida, esse cenário - ajudado pela revisão do peso dos gastos no IPCA - é benigno para a inflação.

O BC melhorou a projeção para a inflação no ano que vem, colocando-a "ao redor" do centro da meta pelo IPCA, de 4,5%. No comunicado anterior, estava "acima".

"O Copom reconhece um ambiente econômico em que prevalece nível de incerteza muito acima do usual e pondera que o cenário prospectivo para a inflação, desde sua última reunião, acumulou sinais favoráveis". A ata afirma que "a taxa de inflação se posiciona em torno da meta em 2012". O texto ainda indica o rumo da política monetária, ao afirmar que "ajustes moderados no nível da taxa básica são consistentes com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012".

Economista da Prosper só vê inflação na meta em 2013

O economista Octavio de Barros, chefe do Departamento de Análises Econômicas do Bradesco, afirmou em relatório que a ata não trouxe mudanças na avaliação do Copom. Para a economista-chefe do Banco RBS, Zeina Latif, o texto mostrou que o BC seguirá o plano de voo traçado em agosto: cortes continuados de 0,5 ponto.

- Não dá para dizer que o pior já passou - disse Zeina, referindo-se à crise global.

Segundo a ata, o cenário global deve potencializar a desaceleração da economia brasileira. O BC espera "moderação do fluxo de investimentos, condições de crédito mais restritivas e piora no sentimento de consumidores e de empresários".

- Que há contágio, não há dúvidas. E a gente está vendo chegar rapidamente ao Brasil, ao contrário de outros países da América Latina - disse Zeina.

Por isso, o Copom estima que haverá recuo dos preços "no horizonte relevante", ou seja, até o fim de 2012. E revisou para baixo o reajuste global dos preços administrados de 4,5% para 4% no ano que vem.

Nas contas de Eduardo Velho, economista da corretora Prosper, só a revisão dos preços administrados significaria uma queda de 0,15 ponto percentual na inflação. Mas ele mantém a projeção de IPCA de 5,22% em 2012, com convergência para o centro da meta apenas em 2013. Para o economista, a política monetária será testada no primeiro bimestre, com a pressão dos reajustes de preços administrados e do salário mínimo.

Octavio de Barros e os economistas da LCA chamaram ainda a atenção para a ausência, na ata, dos comentários sobre políticas macroprudenciais. Isso indicaria que as medidas para frear o consumo já surtiram efeito e poderiam ser revistas.