Título: Inflação sobe e meta fica para trás
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 09/12/2011, Economia, p. 29

Alimentos puxam IPCA de novembro para 0,52%. Alvo de 6,5% está ameaçado

Fabiana Ribeiro, Henrique Gomes Batista e Gabriela Valente

Os alimentos, mais uma vez, fizeram a inflação acelerar em novembro. E, assim, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou para 0,52% em novembro, bem maior do que a taxa de 0,43% de outubro e ligeiramente acima do que o mercado esperava (0,50%). No ano, o índice acumula variação de 5,97% e, em 12 meses, cai para 6,64%, recuando em relação à taxa de outubro (6,97%). Apenas uma inflação de até 0,50% em dezembro permitiria que o país fechasse o ano com o IPCA dentro do teto da meta, que é de 6,5%, informou o IBGE. Mas muitos analistas colocam sob dúvida essa previsão, já que, além dos alimentos, o preços dos serviços vêm pressionando o índice. O Banco Central (BC), por sua vez, considera que o IPCA veio dentro do esperado e já abandonou o cumprimento da meta este ano. Agora, persegue o objetivo central de 4,5% em 2012. A autoridade monetária está confiante de que o pico do IPCA foi alcançado no terceiro trimestre deste ano e a tendência daqui para a frente é de queda, reforçando na instituição a estratégia de cortes da taxa básica de juros.

- Os alimentos são praticamente metade da inflação de novembro (48%), com variação de 1,08%. O preço das carnes aumentou 2,63% no mês, por motivos de sazonalidade, pressão de demanda no fim do ano e aumento dos custos de produção. Com isso, foi o item que mais impactou no índice, que leva a reboque os preços dos suínos e do frango. Ainda assim, o alimento, que subiu menos do que em novembro passado (10,67%), está no ano mais em conta (-0,49%) - disse Eulina Nunes, economista do IBGE.

Entre os alimentos, houve outros pontos de alta, mostrou o IBGE. Ficaram mais caros em novembro o frango (3,13%), o café (2,64%) e arroz (0,48%). Em movimento contrário, o leite ficou 2,02% mais barato, sendo a principal pressão para baixo.

Alta dos serviços, em 12 meses, está em 9,35%

- Essa alta dos alimentos é sazonal, não havendo nada de excepcional no momento. A tendência agora é de desaceleração, até porque não há uma demanda mundial que chancele uma inflação elevada de alimentos - avaliou Fábio Romão, economista da LCA Consultores.

Os serviços continuam pressionando a inflação, em resposta ao aumento de renda dos brasileiros e ao mercado de trabalho ainda aquecido. Nas contas do IBGE, os preços do segmento variaram 0,61% em novembro - quase o dobro do que se observou em outubro (0,36). Em 12 meses, chegam a 9,35%. Ficaram mais caros em novembro, por exemplo, empregado doméstico (1,36%), aluguel (0,81%), cabeleireiro (1,19%) e manicure (1,98%).

- A renda mais elevada garante repasse nos preços. Nesse ano, houve uma forte indexação da economia, especialmente no segmento de serviços - comentou Romão.

Para o BC, porém, o cenário atual é melhor porque os números são bem mais baixos do que os do fim do ano passado, quando a inflação se acelerou por causa do choque dos preços de commodities e também por questões climáticas no Brasil. Na visão do BC, o comportamento dos preços não deve ser, neste fim de 2011, igual ao do encerramento de 2010, entre outros motivos porque, com a crise, a cotação das commodities está em queda.

- O que é importante olhar nesse momento é a tendência da inflação, que aponta para uma desaceleração. Pouco importa se o IPCA vai fechar em 6,50% ou 6,60% em 2011. E, com o cenário de desaquecimento mundial, a inflação deve desacelerar - disse Joaquim Eloi, economista que atualmente está no Conselho de Administração da Bahema S.A.

A alta de 0,52% no IPCA em novembro também não preocupou a equipe econômica. Segundo técnicos do governo, o indicador manteve sua trajetória de queda em relação ao ano passado e não vai impedir que a inflação feche 2011 dentro do teto da meta fixada para o ano, de 6,5%. Em novembro de 2010, o IPCA atingiu 0,83%.

- O IPCA está se comportando com nós já esperávamos. Está mantendo sua trajetória de queda em relação ao ano passado e tem condições de fechar o ano dentro do teto da meta - disse um técnico.

"Governo deixou a meta de inflação em segundo plano"

Na avaliação de Luis Otávio Leal, economista do ABC Brasil, o resultado do IPCA de novembro "não pode ser considerado bom para o BC". Ele estima que a inflação de dezembro esteja entre 0,50% e 0,55%, sendo que apenas se o resultado vier no piso das expectativas é que o teto da meta seria respeitado. Para Romão, ainda há chances de a inflação encerrar o ano no teto. O que se torna mais viável por causa do preço dos eletrodomésticos em queda, devido à redução do IPI cobrado pelo governo de vários produtos na semana passada, para estimular a economia. Ele projeta, em dezembro, um IPCA de 0,50% - taxa suficiente para não estourar o teto da meta.

- Sem esse incentivo dado pelo governo, certamente não haveria condições de a inflação encerrar no teto da meta. Em dezembro, por exemplo, a gasolina aparece fazendo pressão - disse ele.

Salomão Quadros, da FGV, acredita que não há dilema no governo entre aquecimento da economia - com as medidas de estímulo à economia - e a tentativa de se segurar a inflação:

- A inflação está cadente, a taxa anualizada, que deve fechar em 6,50%, deve cair mais um ponto percentual no primeiro semestre.

Assim como Quadros, o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas acredita que o risco de se aumentar a inflação tende a ser maior no segundo semestre. A economista Mônica de Bolle, da Galanto Consultoria, afirma que a inflação é um problema no país e que o governo decidiu criar medidas de incentivo mesmo assim:

- Não há dilema porque o governo deu prioridade ao crescimento e deixou a meta de inflação em segundo plano - disse.

Fábio Kanzuc, professor de economia da FEA/USP, concorda com Mônica: o governo dá mostras que não está preocupado em atingir o centro da meta da inflação para 2012, de 4,5%.

COLABOROU Martha Beck