Título: No Senado, Negromonte afirma que a idade de mentir já passou
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 09/12/2011, O País, p. 10

Com plateia governista, ministro recorre até à Bíblia para negar fraude em Cuiabá

BRASÍLIA. O ministro das Cidades, Mario Negromonte, voltou a negar ontem, na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, fraude processual para permitir que o governo de Mato Grosso alterasse projeto de mobilidade urbana, que ficou R$700 milhões mais caro. Negromonte disse que já passou "a idade de mentir" e que não está preocupado se ficará ou não após a reforma ministerial prevista para janeiro. Sua saída é considerada certa entre os próprio integrantes do PP, partido do ministro.

Negromonte contou com plateia amplamente governista - só o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) representou a oposição - para um pronunciamento rápido e distante da polêmica. Salientou que abriu sindicância sobre o caso, entregue ao MPF e à CGU.

A ausência da oposição fez com que o ministro se sentisse à vontade para falar sobre a acusação de que ordenou pessoalmente a alteração do processo:

- Não vamos passar a mão na cabeça de ninguém. A idade de mentir já passou. Se tiver qualquer Bíblia aqui para fazer juramento, eu o farei. Não solicitei nenhum telefonema, nem pessoalmente (a alteração).

Segundo "O Estado de S. Paulo", o ministro deu aval a documento adulterado, para recomendar projeto de Veículo Leve sobre Trilhos e desbancar o projeto original de linha rápida de ônibus em Cuiabá, visando à Copa de 2014. A solicitação foi feita pelo governador Silval Barbosa ao ministro e à presidente Dilma Rousseff.

O ministro sustentou que o governo federal não impôs restrições à mudança, mas advertiu que a União não teria mais dinheiro para a obra. Negromonte disse que a sindicância já ouviu três pessoas e o MPF colheu o depoimento da diretora de Mobilidade Urbana, Luiza Gomide Vianna - apontada pelo técnico Higor Guerra como responsável pela alteração de pareceres, ambos com o mesmo número de página, o que indicaria troca deliberada no processo.

Álvaro Dias sustentou que houve fraude. Também disse que, ao menos, os servidores envolvidos na denúncia deveriam ter sido afastados, até a conclusão das investigações.