Título: Em SP e no Rio, homicídios caíram desde 2000
Autor: Borges, Waleska; Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 15/12/2011, O País, p. 14

UPPs, desarmamento e Disque-Denúncia contribuem para reduzir violência nos dois estados, dizem especialistas

RIO e SÃO PAULO. Estados com o maior percentual de queda no número de homicídios do país, considerando a última década, São Paulo e Rio destacam iniciativas diferenciadas na área de segurança pública para o resultado positivo revelado pelo Mapa da Violência 2012.

No Rio, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), do governo estadual, e o Disque-Denúncia, ONG mantida financeiramente por empresários, são apontados como carros-chefes para a redução da criminalidade no estado. Aprovados por especialistas, esses programas têm crescido na cidade. Em São Paulo, o governo paulista aponta a campanha do desarmamento e a criação de um sistema integrado de informações como duas das principais causas da redução da violência. Ao longo dos últimos anos, a política de desarticulação de quadrilhas que agiam em presídios e nas antigas unidades da Febem, hoje Fundação Casa, também é vista com bons olhos por especialistas.

"O programa das UPPs não é só policial", diz especialista

Em quase três anos, no Rio, são 18 UPPs em 68 comunidades, que beneficiam diretamente cerca de 315 mil pessoas e outras quase 1 milhão ao seu entorno. Já o Disque-Denúncia, que funciona por intermédio de denúncias feitas pelo telefone, de janeiro até novembro deste ano, registrou 145.266 ligações.

- O programa das UPPs não é só policial. Ele também traz os resgates de território e o da cidadania, levando às comunidades programas sociais, de saneamento e de urbanismo - avalia o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro.

Para o coordenador de Segurança Humana do Viva Rio, Ubiratan Ângelo, diferentemente do que aconteceu com o Grupo de Policiamento em Áreas Especiais (GPAE), que visava a aproximar a polícia das comunidades, as UPPs ganharam o apoio de outros órgãos do governo:

- A UPP deixou de ser um programa de polícia para ser um projeto de governo. Um outro aspecto inteligente da sua implantação é o aviso com antecedência da chegada da polícia, o que evita o confronto.

O Disque-Denúncia, criado em 1995 no Rio, também é apontado por especialistas como um exemplo positivo.

- O Disque-Denúncia é hoje um braço dos mais importantes do setor de inteligência policial. Não teríamos tido tantos resultados positivos ao longo desses anos sem a contribuição do programa - opina Milton Corrêa da Costa, coronel da reserva da Polícia Militar do Rio.

Para o coordenador do Disque-Denúncia, Zeca Borges, a garantia do anonimato e a mobilização da população são alguns dos fatores que contribuíram para o sucesso do programa.

- Trabalhamos com a polícia, a Justiça e as leis que temos. Apesar disso, temos conseguido bons resultados.

Na contramão do que deu certo, especialistas apontam projetos como o Posto de Policiamento Comunitário como um mau exemplo no Rio.

- Não houve troca de informações com a comunidade e faltou investimento. Com isso, alguns policiais acabaram compondo com o tráfico - diz Monteiro.

Em São Paulo, segundo o comandante geral da PM, coronel Alvaro Camilo, o desarmamento contribuiu para a queda dos índices:

- O desarmamento da população contribuiu muito para reduzir esses índices (de homicídios) - diz Camilo, lembrando que desde 1999 a polícia recolheu no estado 390 armas.

O investimento em segurança pública também ganhou reforço nos últimos anos, segundo a Secretaria de Segurança de SP. Desde 2009, 60 mil pistolas foram adquiridas, além de seis helicópteros. O patrulhamento foi reforçado com mais de 12 mil policiais, que ainda passaram a ter mais treinamento.

- Cerca de 90% dos homicídios são cometidos com o uso de armas de fogo, e a maioria em situação irregular. Tradicionalmente, a polícia efetua revistas para a verificação de porte ilegal de arma e conduz as pessoas aos distritos policiais, mas com preocupação central de reduzir o número de armas. É importante ter um foco maior em cima do portador - diz o especialista em segurança pública, José Vicente.

Enquanto, na última década, São Paulo diminuiu a taxa de homicídio de 42,2 para 13,9 por 100 mil habitantes, (4º para 25ª lugar no ranking), o Rio reduziu a taxa 51,0 para 26,2 (de 2º para 17º).