Título: França já se prepara para perda de rating AAA
Autor: Gois, Chico de; Gomes, Wagner
Fonte: O Globo, 16/12/2011, Economia, p. 39
No Brasil, premier francês diz que agências têm lógica imediatista. Dilma condiciona ajuda à reforma no FMI
BRASÍLIA e SÃO PAULO. O governo francês já deu sinais de que espera a perda da classificação AAA, o maior rating das agências de classificação de risco. Em visita ao Brasil, o premier francês, François Fillon, minimizou o impacto de um possível rebaixamento:
"O mercado e as agências de classificação de risco têm sua própria lógica", disse ele ao "Le Monde". "Eles vivem no imediato, no instantâneo. Mas o que importa não é o julgamento de um dia, é a trajetória politicamente estruturada e orçamentariamente rigorosa que a Europa e a França decidiram adotar."
Em Brasília, Fillon disse que seu país está determinado a controlar as finanças públicas e, ao mesmo tempo, incentivar o crescimento europeu. Ele também declarou que a França não irá transigir em relação ao euro. Fillon disse que tratou da crise econômica europeia com a presidente Dilma Rousseff, em encontro de cerca de uma hora no Palácio do Planalto.
- Disse à presidente que a França está plenamente determinada não apenas em controlar as finanças públicas, mas também relançar o crescimento europeu - afirmou Fillon.
O premier disse ainda, sem citar nomes, que alguns países da zona do euro estão sendo atacados pelos mercados:
- Sei que a presidente Dilma compreendeu que quaisquer que sejam as dificuldades que atravessemos nunca vamos transigir em relação à questão da moeda europeia.
Dilma, que falou antes de Fillon, disse que o Brasil está disposto a fazer novo aporte ao Fundo Monetário Internacional (FMI), desde que o organismo implemente as reformas aprovadas em 2010, ampliando o poder dos países emergentes:
- Reafirmei a disposição do governo brasileiro de realizar, se necessário, novos aportes ao FMI, desde que tenhamos garantias de que a reforma de 2010 será implementada.
O apoio do Brasil à candidata francesa Christine Lagarde, eleita este ano diretora-gerente do Fundo, teve como moeda de troca a promessa da implementação das mudanças.
Antes do encontro com Dilma, Fillon visitou a sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista, onde criticou os ataques especulativos à zona do euro e reafirmou a necessidade de manutenção da comunidade europeia. Fillon disse que a crise é "quase política".
- Hoje, o sucesso da zona do euro perturba muitos interesses. Há oportunismo nos ataques que estão sendo conduzidos contra ele - disse ele. - O Brasil, que foi afetado em 2010 pela especulação do real, conhece os excessos dos mercados financeiros que, às vezes, têm um papel útil de antecipação, mas também tendem a agravar os problemas.
Fillon disse que o Brasil atrai a França e por isso viajou acompanhado de uma delegação de 40 pessoas, das quais três ministros de Estado e 28 empresários, além de nove parlamentares.
(*) Com agências internacionais