Título: Deputados ainda querem aumento de verba
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 19/12/2011, O País, p. 9

Mesmo com alerta de Dilma sobre momento inadequado, Mesa Diretora pode estudar tema

BRASÍLIA. Na semana passada o assunto foi temporariamente engavetado, mas ainda é grande a pressão, nos bastidores, pela aprovação do aumento da verba de gabinete dos deputados, e a expectativa na Câmara é que o tema seja analisado em reunião da Mesa Diretora da Casa ainda este ano. A favor do aumento, líderes e deputados argumentam que a verba - usada para pagar os funcionários que trabalham nos gabinetes - não é reajustada há cinco anos e defendem, pelo menos, a correção inflacionária do período.

Hoje a verba é de R$60 mil, e especula-se que poderia ficar entre R$70 mil e R$90 mil. Os dirigentes e líderes da Câmara ainda avaliam a oportunidade de aprovar um aumento que, certamente, provocaria mais desgaste da imagem da Casa. Reforça essa cautela o alerta da presidente Dilma Rousseff, sexta-feira passada em entrevista, de que, com a crise econômica mundial se agravando, não é hora de conceder aumentos de salários.

O próprio presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) - que adiou para 2012 o debate sobre o reajuste dos servidores concursados e comissionados, que provocaria um impacto de R$320 milhões/ano na folha de pagamentos da Casa - não descartou a possibilidade de aumento da verba este ano, mas não convocou ainda a reunião da Mesa Diretora.

Medida exigiria correção da tabela salarial

Para o aumento ter efeito prático, o plenário da Câmara teria que aprovar na sequência um projeto com a correção da tabela salarial dos funcionários de gabinetes - o que seria um complicador a mais, já que a prioridade nesta última semana é votar o Orçamento da União de 2012.

- O aumento é justo, para os funcionários que estão há quase cinco anos sem reajuste em seus salários. Mas estou sentindo que não acontecerá agora, porque não há tempo para reunir o plenário e votar a correção da tabela - afirmou o primeiro-secretário da Mesa Diretora, Eduardo Gomes (PSDB-TO),

- A única correção que defendo é a inflacionária do período, algo em torno de 20%, que aumentaria a verba para cerca de R$71 mil. Mas acho improvável. Por mais que seja injusto não dar pelo menos a inflação aos funcionários, fica incoerente, porque na peça orçamentária não estão previstos aumentos para nenhuma categoria - afirmou o quarto secretário, deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

Hoje, o cargo mais alto de um gabinete de deputado, o de secretário parlamentar - normalmente ocupado pelo chefe de gabinete - tem salário R$8 mil brutos, cerca de R$6,2 mil líquidos. No Senado, cargo semelhante paga salário superior a R$15 mil.