Título: BC europeu promete liquidez ilimitada a bancos
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Fonte: O Globo, 20/12/2011, Economia, p. 27
Mas decisão de não ampliar compra de títulos decepciona mercados. NY recua 0,84%, e Bolsa de SP cai 1,42%
BRUXELAS, FRANKFURT e RIO. O Banco Central Europeu (BCE) quer evitar a possibilidade de uma desaceleração econômica ou mesmo de uma recessão no ano que vem, e para isso dará liquidez ilimitada aos bancos da zona do euro, afirmou ontem o presidente da instituição, Mario Draghi, em audiência no Parlamento Europeu. Mas manteve a posição de não investir pesadamente na compra de títulos governamentais. Ele admitiu que no ano que vem os bancos da região passarão por um aperto no crédito. Draghi reconheceu que as medidas de austeridade provocarão retração nas economias, mas assegurou não ter dúvidas sobre a irreversibilidade do euro:
- A moeda única é irreversível. Há muitas pessoas, especialmente fora da zona do euro, que perdem tempo, na minha opinião, com uma especulação mórbida: "o que acontece se?". E todos têm cenários catastróficos para a zona do euro.
Draghi assegurou que o BCE está fazendo todo o possível para evitar uma crise do crédito. Mas ressaltou que o BCE não pode prejudicar sua credibilidade, daí não adotar um programa de compra de títulos do governo de larga escala. Ele ainda pediu que se acelere a capitalização do fundo de resgate permanente de 500 bilhões se a França perder seu rating "AAA".
Dólar fecha em alta de 0,48%, a R$1,865
Os comentários do presidente do BCE azedaram o clima nos mercados internacionais. Em Nova York, o índice Dow Jones recuou 0,84% e o Nasdaq, 1,26%. Também pesou o temor de que os grandes bancos americanos necessitem de aporte de capital. Na Europa, houve perdas em Londres (0,41%), Frankfurt (0,54%) e Milão (0,16%), enquanto fecharam em alta Paris (0,06%) e Madri (0,60%).
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em baixa de 1,42%, aos 55.298 pontos pelo Ibovespa, seu principal índice. Pela manhã, ele avançara 0,50% com a alta das commodities no mercado global. O volume de negócios foi de R$9,3 bilhões, por causa do vencimento de opções sobre ações. Com mais aversão a risco, o dólar comercial fechou em alta de 0,48%, a R$1,865.
- Foi um dia morno, sem indicadores relevantes - avalia Hersz Ferman, gestor da Yield Capital.
Relatório do BCE alerta para risco de estabilidade
As maiores perdas foram das ações ordinárias (ON, sem voto) da construtora Gafisa e da V-Agro (ex-Brasil Ecodiesel), maior produtora de grãos do país. A Gafisa recuou 12,97%, a R$4,43, a maior queda em três anos, devido a rumores de que enfrenta dificuldades em captar recursos para pagar dívidas de curto prazo. Já a V-Agro recuou 12,50%, a R$0,35, em meio a uma disputa societária na empresa, que tem participação do investidor espanhol Enrique Bañuelos.
Paralelamente, o BCE afirmou em relatório que os riscos à estabilidade financeira na zona do euro cresceram consideravelmente no segundo semestre, ressaltando o temor de contágio da crise da dívida europeia. A instituição informou que o risco de dois grandes bancos não honrarem seus compromissos em 2012 atingiu seu maior nível desde que as medições começaram, há quatro anos.
"A possibilidade de que mais países da zona do euro enfrentem dificuldades para financiar suas dívidas permanece entre os maiores riscos à estabilidade financeira da região", afirmou o BCE. (Bruno Villas Bôas, com agências internacionais)