Título: Morte suspeita abala cúpula do Mercosul
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 21/12/2011, Economia, p. 31
Subsecretário de Comércio da Argentina é achado morto em suíte de hotel. Economista era expoente do kirchnerismo
MONTEVIDÉU. A cúpula de presidentes do Mercosul viveu momentos de tensão ontem, quando o governo argentino divulgou a morte do subsecretário de Comércio Exterior, Iván Heyn, de 34 anos. O funcionário foi encontrado enforcado em seu quarto no hotel Radisson, no Centro de Montevidéu. A morte do economista interrompeu por mais de uma hora as reuniões e levou os presidentes a suspenderem a foto oficial. A polícia trabalha com a hipótese de suicídio. Segundo informações não oficiais, o corpo do economista estaria nu dentro do armário.
A presidente Cristina Kirchner passou mal ao ser informada da morte de Heyn e teve de ser atendida por seu médico. O funcionário integrava o movimento político La Cámpora, fundado e liderado pelo filho da presidente, Máximo Kirchner.
- Os rapazes de La Cámpora são considerados quase filhos por Cristina - disse uma fonte do governo argentino.
Heyn assumira o cargo no último dia 10, quando a presidente, reeleita em outubro com 54% dos votos, iniciou seu segundo mandato. Ele era considerado uma das promessas da nova geração kirchnerista.
- Ele não apareceu nas reuniões da manhã e por isso foram procurá-lo no hotel - contou uma fonte da Casa Rosada.
Crise fortaleceu escolha política do jovem Heyn
Ninguém conseguia entender ontem por que o subsecretário poderia ter se suicidado. Em Buenos Aires, jornalistas argentinos comentaram que Heyn não era considerado uma pessoa problemática, mas, talvez, não tenha suportado a pressão do novo cargo. Os jovens de La Cámpora começaram a militar politicamente há poucos anos e seu poder cresceu de vertiginosamente. Membros do grupo estão em diretorias de empresas como Aerolíneas Argentinas e em ministérios.
- São jovens brilhantes, mas sem experiência política - explicou uma fonte argentina.
Heyn, que trabalhou por vários anos no setor privado, integrava a equipe do polêmico secretário de Comércio Interior Guillermo Moreno, acusado, entre outras coisas, de manipular as estatísticas oficiais do país e barrar importações.
Um dos nomes mais promissores do kirchnerismo, o economista juntou-se ao movimento La Cámpora assim que foi criado, no início dos anos 2000, segundo o jornal "La Nación". Ele entrou no governo em 2008, pelas mãos da ex-ministra da Economia Felisa Miceli. Uma de suas tarefas, de acordo com o jornal "Clarín", era fazer a ligação entre a Economia e a Secretaria de Comércio. Heyn também foi subsecretário de Indústria.
Filho de uma argentina com um paraguaio, o envolvimento de Heyn com a política e sua decisão de militar foram despertados em meio à crise econômica que assolou o país e culminou com mudanças radicais, há dez anos.
"De um dia para o outro, passamos de classe média acomodada, com dois meses de férias, a não ter nada, e a ter que sair em busca de uma casa para alugar. Eu tinha 16 anos, e ver derrotada a imagem forte de meu pai, que é do tipo que leva a família para frente, foi duro", afirmou Heyn em julho ao "La Nación".