Título: Pimentel ganha tempo para explicar consultorias
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 21/12/2011, O País, p. 12

Na última reunião do ano, Mesa do Senado sequer analisou pedido de tucano para cobrar detalhes do ministro

BRASÍLIA. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, escapou de ter que responder, num prazo de 30 dias, a 12 perguntas sobre detalhes, contratos e valores das consultorias que diz ter prestado para empresários de Minas Gerais e Pernambuco, serviço pelo qual recebeu R$2 milhões em 2009 e 2010. Requerimento nesse sentido apresentado pelo líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), sequer foi analisado pela Mesa Diretora do Senado em sua última reunião do ano, realizada ontem.

Isso significa que só em fevereiro a Mesa vai analisar o pedido do tucano e, provavelmente, aprovar seu encaminhamento ao ministro Pimentel. O prazo de 30 dias para o ministro responder aos questionamentos do PSDB só começará a contar a partir do momento em que ele receber o requerimento. Após a reunião, o primeiro-secretário da Mesa, Cícero Lucena (PSDB-PB), chegou a afirmar que o pedido de informações a Pimentel havia sido aprovado.

- Todos os requerimentos foram aprovados conforme a relatoria - disse Cícero Lucena quando perguntado por jornalistas sobre o requerimento de Álvaro Dias.

Senador se equivocou sobre requerimento

Na verdade, a senador paraibano se equivocou, conforme a própria assessoria da Mesa informou mais tarde. Foi aprovado, de fato, um outro requerimento de Álvaro Dias, mas com pedido de informações ao ministro da Educação, Fernando Haddad, sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) .

- O requerimento (sobre o o caso) do Pimentel sequer foi colocado para discussão - confirmou posteriormente o segundo-vice-presidente do Senado, Waldemir Moca (PMDB-MS).

Álvaro Dias reconhece que houve pouco tempo para a Mesa designar relator para dar parecer sobre o requerimento a respeito das consultorias de Pimentel, mas ressaltou que, se houvesse vontade política, o assunto poderia ter sido encaminhado antes do fim do recesso.

- Agora o ministro só vai dar suas explicações no ano que vem. Não tem nem relator designado. A Mesa não agilizou, mas poderia ter agilizado - lamentou Álvaro Dias.

O requerimento com as 12 perguntas foi encaminhado à Mesa na quinta-feira passada, dia 15. Foi uma estratégia para driblar a blindagem do governo, que impediu a convocação do ministro Pimentel nas comissões da Casa. Além do detalhamento das consultorias prestadas, Dias pede ainda que Pimentel envie cópias das notas fiscais emitidas pelos serviços prestados.

O ministro já afirmou que fez contrato formal apenas com a Federação das Indústrias do Estado de Minas (Fiemg), pelo qual recebeu R$1 milhão, e que os outros contratos foram verbais. Desde as primeiras denúncias feitas pelo GLOBO, há mais de duas semanas, porém, o ministro não apresentou provas de que efetivamente prestou as consultorias.

Procuradas pelo GLOBO, as regionais da Fiemg negaram palestras de Pimentel nas unidades em Minas, informação que fora dada pelo então presidente da entidade, Robson Andrade, para justificar parte do suposto trabalho. Apesar de o caso guardar semelhanças com o que derrubou Antonio Palocci da Casa Civil, a presidente Dilma Rousseff já disse que ele não tem que se explicar no Congresso e que as denúncias "não têm nada a ver" com seu governo, já que Pimentel prestou as consultorias logo após deixar a prefeitura de Belo Horizonte e antes de assumir o ministério.

Ontem, Pimentel acompanhou a presidente em reunião do Mercosul, no Uruguai.