Título: MPF acusa presidente da Conab de fraude
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 21/12/2011, O País, p. 14

Evangevaldo dos Santos teria pagado pela aprovação de um candidato no exame da OAB em Goiás em 2006

BRASÍLIA. O Ministério Público Federal em Goiás apresentou denúncia à Justiça contra o hoje presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Evangevaldo Moreira dos Santos. Ele é acusado de integrar esquema de fraudes no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) aplicado em 2006 no estado. Evangevaldo foi denunciado por supressão de documento público, falsificação e uso de documento público falso e violação de sigilo funcional qualificado. Outras cem pessoas também foram denunciadas por participação no mesmo esquema.

Em 2006, Evangevaldo Santos presidia a Agência Ambiental em Goiás e era amigo de um dos acusados de fraudar a prova, José Rosa Júnior. Em conversas gravadas pela Polícia Federal, ele demonstrava pleno conhecimento das práticas criminosas. Ele teria encaminhado dados pessoais de um candidato inscrito no exame para que fosse aprovado de forma ilícita. O candidato era funcionário da Agência Ambiental. Evangevaldo Santos teria pagado pela aprovação.

Segundo o Ministério Público, uma acusada suprimia os cartões de respostas originais dos candidatos beneficiários, substituindo-os por outros, falsos. Na prova subjetiva, ela repassava as folhas de respostas em branco para uma intermediária, que anotava as respostas corretas. Os candidatos pagavam cerca de R$15 mil para garantir a aprovação. Foram denunciados integrantes da OAB e beneficiados com o esquema. O Ministério Público começou a investigar o caso após a Polícia Federal deflagrar a Operação Passando a Limpo, em 2007.

Na denúncia, o procurador da República Hélio Telho incluiu a informação de que Evangevaldo Santos foi indicado aos dois cargos públicos - na Agência Ambiental goiana e na Conab - pelo deputado Jovair Arantes (PTB-GO).

A Conab é um órgão ligado ao Ministério da Agricultura. Ela foi palco das supostas irregularidades que derrubaram o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi do governo. À época, a Controladoria Geral da União (CGU) apontou falhas graves na Conab, como pagamentos indevidos a empresas, e recomendou a reestruturação do órgão.

A assessoria de imprensa da Conab divulgou ontem nota dizendo que "não existe inquérito contra o senhor Evangevaldo Moreira dos Santos, mas apenas um contra outras pessoas, em cujos autos seu nome aparece". A nota também diz que a pessoa por quem o presidente da Conab teria intercedido teria sido reprovada no exame. E que Evangevaldo Santos não foi chamado para prestar depoimento e apresentar sua versão.

A Conab também acusa o Ministério Público de perseguição política contra o acusado. "Lembramos que o dever do Ministério Público é investigar e não julgar, assim como o dever da imprensa é informar a verdade, da melhor forma possível, e não colaborar com a propagação de factoides, que às vezes são produzidos por interesses escusos, objetivando induzir a opinião pública ao erro", diz o texto.