Título: Relações intensas, mas desiguais
Autor: Zerpa, Fabiola
Fonte: O Globo, 18/12/2011, Economia, p. 43
Na troca comercial, chineses estão em vantagem ao comprar produtos básicos
BRASÍLIA. Intensas, excelentes politicamente, mas desiguais, quando o tema é comércio. De forma geral, esta é a principal definição de governo e analistas brasileiros sobre as relações Brasil-China. Enquanto os dois países fazem acordos e conchavos nas Nações Unidas no âmbito dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), no intercâmbio comercial, os chineses estão em larga vantagem, ao comprar matérias-primas brasileiras e vender industrializados.
A China é o principal parceiro comercial do Brasil. Desde 2010, passou à frente de Estados Unidos e Argentina. De janeiro a setembro, o Brasil exportou US$33,6 bilhões e importou US$24,1 bilhões do país asiático. Mas são apenas dados estatísticos. Segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro, a China sempre dá as cartas.
- Sob a ótica brasileira, existe uma relação de subserviência em que não temos poder de negociação. As relações são difíceis. A China determina preço, condições de venda e ameaça o Brasil abertamente - disse.
Castro lembrou que as indústrias brasileiras são prejudicadas com a invasão de produtos chineses. A elevada carga tributária, o câmbio desfavorável e os problemas de infraestrutura e logística tiram competitividade dos manufaturados nacionais. E cresce o número de investigações de concorrência desleal.
Também crescem os investimentos. Dados da Câmara de Comércio Brasil-China mostram que, em 2010, os chineses se tornaram os maiores investidores estrangeiros no país. Foram anunciados US$30 bilhões - 90% em energia e mineração.
No campo político, o consultor Rubens Barbosa, ex-embaixador nos EUA, afirma que as relações nunca foram tão boas. Isso foi demonstrado quando a presidente Dilma Rousseff escolheu a China como primeiro país a visitar fora da América Latina.