Título: Nas cidades gêmeas, baixos indicadores
Autor: Duarte, Alessandra
Fonte: O Globo, 18/12/2011, O País, p. 12/13

Áreas têm mazelas como analfabetismo e falta de saneamento

Um exemplo da falta de investimento no desenvolvimento dessas regiões está nos indicadores das chamadas cidades gêmeas, municípios com maior integração urbana com cidades de outros países. No Brasil, são 27, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração. Como Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul ("gêmea" da paraguaia Pedro Juan Caballero), que, segundo o IBGE, tem 65% dos domicílios sem acesso a saneamento e mais de 9% das pessoas com 15 anos ou mais analfabetas.

Percentual pior de saneamento (70%) se encontra em Guajará-Mirim, Rondônia (gêmea da boliviana Guayaramerín), e Corumbá, no MS (gêmea de Porto Suarez, na Bolívia). Santa Rosa do Purus, no Acre (gêmea da peruana Santa Rosa), tem rendimento domiciliar per capita de apenas R$259 por mês, em média.

Outra dessas cidades gêmeas é Tabatinga (gêmea da colombiana Letícia), na qual 17,6% das pessoas com 10 anos ou mais são analfabetas. Da 2ª Promotoria de Justiça do município, o promotor Daniel Amazonas cita oportunidades econômicas que a região desperdiça.

- Aqui, o efetivo da Polícia Federal e da Força Nacional não é suficiente para o corredor do tráfico formado na área. Mas, além disso, há outros problemas, como a entrada de haitianos em busca de emprego, após o terremoto naquele país; e as próprias condições socioeconômicas locais. O único acesso para emprego aqui é basicamente o poder público. O setor de serviços é pouco desenvolvido: são alguns supermercados, farmácias... Então, muitas pessoas, por alguma necessidade econômica, e sem perspectiva na região, acabam se tornando "mula" para o tráfico - afirma Daniel Amazonas. - Na cidade, não há, por exemplo, empresas de turismo ecológico, de passeios de barco, e estamos na Região Amazônica; é um setor que poderia ser explorado. Também poderia haver investimento em áreas de manejo do peixe, com maior profissionalização de quem trabalha com a pesca. São setores que poderiam movimentar a economia e trazer ganho para a população daqui.

O problema com os celulares na cidade - que se estende à conexão de internet, acrescenta o promotor - já é alvo de quatro ações civis públicas do MP, "contra Oi, TIM, Vivo e Embratel, porque nem celular nem placa 3G funciona, e não é uma vez ou outra, é nunca". Moradora do município, Camila Bonfim - que foi ter sua filha numa clínica de Letícia, pois precisava fazer cesariana "e o hospital daqui é muito cheio" - administra um site de eventos da região e conta como o problema de telefonia afeta seu trabalho:

- Ontem mesmo perdi visita a uma cliente porque ela não conseguiu me ligar - diz, antes da ligação para o seu celular cair, pela oitava vez seguida.