Título: Prévia do IPCA acelera e supera meta no ano
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 22/12/2011, Economia, p. 37

Índice varia 0,56% em dezembro e fecha 2011 em 6,56%, acima do teto de 6,5%. Analistas divergem sobre taxa oficial

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) acelerou e registrou alta de 0,56% em dezembro, acima da taxa de 0,46% do mês anterior, informou ontem o IBGE. Prévia do índice oficial de inflação - o IPCA - o IPCA-15, que se difere apenas pelo período de coleta de preços, no caso entre 15 de novembro e 13 deste mês, acumulou alta de 6,56% no ano. A taxa é muito maior que o centro da meta para o ano (4,5%) e supera até mesmo o teto da margem criada pelo governo, fixado em 6,5%.

Apesar disso, economistas, analistas e operadores do mercado financeiro ainda divergem: alguns acreditam que o IPCA terminará o ano dentro do limite máximo imposto pelo governo, enquanto outros dão como certo o estouro do teto, o que obrigaria o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, a escrever uma carta ao governo explicando os motivos do que seria o primeiro fracasso na política de metas de inflação desde 2003.

A alta dos preços do grupo Alimentação e bebidas, que passou de 0,77% para 1,28%, foi a principal responsável pelo crescimento do índice em dezembro. O destaque ficou por conta do preço das carnes, que subiram 4,36%, contra alta de 1,30% no IPCA-15 de novembro. Mesmo assim, há analistas que acreditam que a inflação terminará o ano dentro da meta:

- Esperamos que no IPCA fechado de dezembro o grupo Alimentação e Bebidas registre alguma desaceleração em resposta defasada à recente redução na pressão dos preços dos produtos agropecuários no atacado - disse o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, que acredita que o IPCA de dezembro será de 0,50%, e que o índice crave o teto da meta do ano, ou seja, feche 2011 em 6,50%.

- Além da redução da pressão inflacionária dos alimentos, o índice fechado será impactado pela redução dos preços dos eletrodomésticos após a redução do IPI. No IPCA-15, este grupo apresentou uma deflação de 0,85%, mas no índice final acredito que a redução nos preços deve chegar a 3% - afirmou Romão, que acredita que o IPCA deve se reduzir muito em 2012, para 4,8%, por conta de reajustes muito menores na gasolina, nos preços administrados, como ônibus urbanos, e nos alimentos, cujos preços não serão pressionados mundialmente, por conta da crise europeia.

Apesar de ainda estimar que o IPCA fechará o ano em 6,50%, Alex Agostini, economista da Austin Rating, vê muita chance para que o índice chegue a 6,55% no ano, o que obrigaria Tombini a se esclarecer por carta.

Arredondamento pode manter inflação na meta

- Isso considerando o momento atual de queda de juros, que contradiz o não cumprimento da meta, bem como as ações de política fiscal para estímulo da atividade econômica e o reajuste do salário mínimo da ordem de 13% em 2012.

Bruno Brito, analista da Tendências Consultoria, acredita que a inflação fechada de dezembro não deve esfriar e chegará a 0,54%, causando o estouro do teto da meta do ano. Sua consultoria indicou que diversos países do mundo superaram suas metas e tetos estabelecidos. Entretanto, de um conjunto relevante de países, apenas Turquia, Índia e Rússia devem fechar o ano com inflação maior que a brasileira.

- O estouro da meta obrigaria o governo a se explicar, a não ser que ocorra um arredondamento na inflação, como começa a ser discutido- afirmou.

A meta estipulada pelo governo tem apenas uma casa decimal após a vírgula, embora os índices de preços sejam divulgados com duas casas decimais após a vírgula. O debate levou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) a se municiar de todas as fontes possíveis sobre as regras de arredondamento de números. Ele foi atrás da cópia da Norma Brasileira (NBR) 5.891, de 1977, e chegou a enviar uma carta à presidência do IBGE fazendo a consulta. Em resposta à sua consulta, a presidente do instituto, Wasmália Bivar, deixou claro que "não cabe ao IBGE se posicionar a cerca de assuntos relativos à definição e ao estabelecimento de metas de inflação".

Essa debate nunca tinha ocorrido antes no BC, pois, nas três ocasiões em que o presidente da entidade precisou escrever a carta ao ministro da Fazenda, o estouro foi muito maior. Questionado sobre a possibilidade de arredondamento, a autoridade monetária foi sucinta. "Não falamos sobre o assunto".

COLABORARAM Gabriela Valente e Vivian Oswald, de Brasília