Título: Declínio anunciado
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 22/12/2011, Economia, p. 36
A Sondagem de Investimentos da Indústria divulgada ontem pela FGV reforçou o que já estava evidente em outros indicadores: o agravamento da crise no setor industrial e as previsões sombrias para 2012, com redução de investimentos, do faturamento e das contratações. O pior dos mundos para uma economia que, nas palavras do ministro da Fazenda, chegou ao fundo do poço neste fim de ano e precisa se recuperar no próximo.
O declínio da indústria não é fato novo. É um processo que começou no ano passado e agravou-se a partir do segundo semestre deste ano. A crise externa pegou de jeito um setor fragilizado pela baixa competitividade e um câmbio desfavorável. O cenário externo adverso e o acirramento da concorrência com os produtos asiáticos tornou agudos os problemas crônicos.
- Fomos muito tolerantes com a baixa competitividade e avançamos muito pouco na redução dos custos tributários, dos custos do trabalho, do capital e da burocracia - observa Flávio Castelo Branco, da CNI.
Julio Almeida, economista do Iedi, considera a crise muito grave e sem volta a curto prazo. Ele lembra que outros segmentos atingidos pela crise externa têm escapes que a indústria não tem. No setor agroindustrial, por exemplo, os preços internacionais são competitivos e a produtividade, muito mais elevada.
O que preocupa esses especialistas não é apenas o declínio da indústria, mas os efeitos da crise no conjunto da economia. O impacto no emprego já apareceu nos números de novembro divulgados pelo Ministério do Trabalho.
- O emprego perdido hoje significa consumo menor amanhã de bens, de serviços, queda nas vendas do comércio. Não dá para dizer que a crise é só na indústria, porque esse processo acaba transbordando para outros setores com efeitos encadeados - destaca o economista do Iedi.
A curto prazo, os economistas só enxergam duas possibilidades para amenizar o problema: segurar a taxa de câmbio e reforçar a defesa comercial para brecar as importações, especialmente a invasão de produtos asiáticos que estão ferindo de morte alguns segmentos industriais.
Mas isso não resolve os problemas estruturais. Para crescer, a indústria precisa produzir melhor e mais barato e isso pressupõe uma ação coordenação do governo e do setor produtivo para reduzir custos de insumos e a carga tributária, investir em inovação e aumentar a produtividade e competitividade. Se esses problemas estruturais não forem resolvidos, o futuro é incerto, ou talvez nem exista.