Título: Paraisópolis começa a se libertar do inferno
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 22/12/2011, O País, p. 11
Investimentos do poder público na maior favela de São Paulo enchem de esperança moradores da comunidade
SÃO PAULO. Paraisópolis, a maior favela de São Paulo, de acordo com os dados do IBGE, está longe de ser o paraíso que seu nome sugere. Mas os moradores dos 13.071 domicílios mapeados pelo estudo "Aglomerados Subnormais" acham que até poderão melhorar de vida. Afinal, há cerca de quatro anos, na onda da ascensão social e econômica da classe C, com investimentos em massa dos governos federal, estadual e municipal, a favela começou a passar por transformações urbanas que a estão consolidando, não propriamente como um paraíso, mas como um bairro organizado de uma comunidade ativa.
- Temos aqui o maior programa de urbanização do mundo - diz o o presidente da Associação dos Moradores de Paraisópolis, Gilson Rodrigues.
R$600 milhões em projetos transformam a comunidade
Segundo ele, isso significa que o programa, que reúne projetos executados com recursos federais, estaduais e municipais de R$600 milhões até 2014, está transformando a comunidade. Já foram removidas 1.200 moradias em área de risco (construídas em áreas de deslizamento ou em cima de córregos), e as famílias, transferidas para novas casas. Foi instalada uma escola técnica estadual (ensino médio), um posto de saúde e creches. Todas as ruas foram asfaltadas, e, até 2014, outras obras terão sido concluídas.
- Somos cem mil pessoas aqui em Paraisópolis e continuamos crescendo - diz Gilson.
Juntas, as mudanças introduzidas pela urbanização da favela e a ascensão da classe C estão fazendo com que Paraisópolis passe a viver uma nova realidade. Com a autoestima elevada, os moradores começaram a ter mais empregos com as novas oportunidades que surgiram. Alguns criaram suas próprias opções e investiram na própria comunidade.
Caso exemplar é o da cabeleireira Rosângela de Jesus Santana, de 28 anos, que está ampliando o seu New Look Hair, mudando seu pequeno salão para um espaço maior. Ela alugou uma nova sala na própria favela e vai pagar R$2 mil por mês na certeza de que vai conseguir se sair bem. Ela tem certeza que as cerca de 30 clientes que se espremem no salão nos finais de semana para fazer mão, pé, cabelo, os principais serviços, vão ficar felizes.
- Estou há três anos aqui com o meu negócio. Mas estou na comunidade há mais de dez anos. Percebi esse salto e estou investindo, tenho certeza que vai dar certo. Acho que vou conseguir atender o dobro de pessoas - aposta a jovem empresária, que tem três funcionárias em seu salão no meio da favela.
Butique faz sucesso vendendo roupas de grife
A empresária Miralva Miranda de Oliveira, de 42 anos, a Mira, representa bem o crescimento de Paraisópolis. Ela é dona da butique Mira Modas, já tem uma filial da loja, e em plena favela está faturando bem vendendo roupas de grife.
- Aqui está cheio de gente que quer se vestir bem.É um público exigente. É como em qualquer lugar do país, ninguém quer ficar mal. É um público que gasta porque gosta de se vestir bem - ensina Mira.
Depois que abriu a loja, há quatro anos, quando a intuição feminina a fez perceber o nicho de mercado, Mira começou a vivenciar a evolução da comunidade. Há cerca de um ano e meio, abriu a filial da sua butique.
- A gente percebeu logo que as pessoas estavam ganhando mais, tinham salários melhores, mais empregos. E os empresários daqui da comunidade davam emprego para quem já era daqui. Aí começou a crescer mesmo - conta.
Nem tudo, porém, são indícios de paraíso. Paraisópolis tem ainda muitos problemas. O principal deles, para o presidente da associação dos moradores, é a falta de um hospital.
- O mais próximo, no Campo Limpo, é de acesso muito difícil para a comunidade - diz, enumerando ainda problemas como cinco mil crianças fora de creche e 12 mil adultos analfabetos.