Título: Angra dos Reis é a 10ª do país em proporção de domicílios em favelas
Autor: Galdo, Rafael
Fonte: O Globo, 22/12/2011, O País, p. 4

Mais de 30% das casas do município estão em aglomerados subnormais

Uma realidade muito diferente da Angra dos Reis de mansões, barcos de luxo e praias paradisíacas. Foi o que mostrou a pesquisa sobre Aglomerados Subnormais do Censo 2010 do IBGE, divulgado ontem. Segundo o estudo, ano passado a cidade no Sul Fluminense era a décima do país num ranking nada desejável para qualquer prefeitura: o de municípios com maior percentual de domicílios em favelas. Segundo o levantamento, ano passado 34,2% das residências de Angra ficavam em aglomerados subnormais, ou seja, 18.341 dos 53.575 domicílios da cidade. Na capital fluminense, por exemplo, esse percentual era bem menor, de 19,9%.

De seus 169.270 habitantes, 60.009 (ou 35,5%) viviam nesses aglomerados. Em todo o município, o IBGE identificou 37 aglomerados subnormais. Três deles com mais de 5 mil moradores: Divineia/Vila Nova, Banqueta e Margem do Rio Mambucaba. E tudo isso com agravantes: o município tem apenas 13% de áreas planas, e a maioria dos aglomerados subnormais fica em áreas de encostas íngremes, como a que deslizou no réveillon de 2010 no Morro da Carioca, Centro, deixando 21 mortos (ao todo, 52 morreram no município devido aos temporais do ano passado).

Estudos apontam uma série de fatores para o crescimento populacional e das favelas de Angra. A chegada dos migrantes se intensificou no começo dos anos 60, com a instalação do estaleiro Verolme e da usina nuclear, nos anos 70. Na mesma época, foi pavimentada a BR-101 (Rio-Santos). E nos anos 80 e 90, a cidade se tornou um dos principais polos turísticos do Rio. Embora o IBGE não identificasse favelas no município em 1991, já era comum ver casas no alto dos morro. No Censo 2000, quando a cidade tinha 119.247 habitantes, foram contados 3.799 habitantes nas favelas da época. Hoje, esse número se multiplicou por 15 vezes.

O próprio atual prefeito da cidade, Essiomar Gomes, chegou a Angra em 1983, vindo do Maranhão, com os pais em busca de oportunidades no município. Ele conta que, por cerca de 15 anos, viveu no Morro do Carmo. E admite que é grande o déficit habitacional na cidade.

- O Centro de Angra é muito apertado, entre a montanha e o mar. A cidade acabou crescendo para os morros. Depois da tragédia do ano passado, construímos 800 apartamentos para abrigar a população atingida. Mas precisamos de mais - afirma ele, que assumiu ontem a prefeitura.

Para a professora de urbanismo Luciana Correa do Lago, do Ippur/UFRJ, os dados do Censo 2010 captam os resultados de uma década de praticamente ausência de políticas habitacionais de construção de moradias para a população de baixa renda. Por isso, segundo ela, muitas cidades em todo o Brasil, como o Angra dos Reis, experimentaram o crescimento de suas favelas.

- De 1986, na época do Banco Nacional da Habitação, até 2009, com o Minha Casa Minha Vida, vivemos um período de ausência de políticas habitacionais para construção de moradias. O que se viu nesse período foram medidas como a regularização e a legalização de favelas. E mesmo agora, a população teria uma alternativa se realmente o Minha Casa Minha Vida atendesse à população que ganha de zero a três salários mínimos. Mas não é o que parece que está acontecendo - afirma ela.