Título: Emprego temporário salva números do IBGE
Autor: Durão, Mariana; Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 23/12/2011, Economia, p. 28

Desemprego fica em 5,2% em novembro e resultado surpreende porque vem seguido à decepção revelada no Caged

O Brasil atingiu em novembro taxa de desemprego de 5,2% nas seis principais regiões metropolitanas do país, a menor para o mês e também em toda a série histórica da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, iniciada em março de 2002. O resultado surpreendeu o mercado, que projetava taxa em torno de 5,6%, e veio dois dias após o governo divulgar a menor geração de empregos formais desde 2008 meses pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho (veja o box).

Para Cimar Azeredo, gerente da PME, o resultado positivo do mês reflete as contratações temporárias de fim de ano. Normalmente esperadas para dezembro, elas podem ter sido antecipadas:

- Houve geração de 148 mil vagas no mês. São pessoas contratadas temporariamente para atuar tanto no comércio, quanto nos serviços ou construção.

De acordo com o IBGE, os setores de construção civil e serviços prestados às empresas foram os principais fatores para reduzir a taxa de desemprego. No entanto, os analistas alertam que esse é um emprego de pior qualidade.

Turbinada por programas como o PAC e obras para a Copa do Mundo, a construção civil respondeu por 7,8% da população ocupada em novembro, empregando 73 mil pessoas. No Rio de Janeiro, o destaque foi o comércio, que gerou 70 mil postos de trabalho. Mas no balanço do ano, o maior destaque foi o setor de serviços à empresas, que gerou 10,1% mais vagas.

Já a indústria manteve a tendência de desaceleração. O setor empregou 16% da população ocupada em novembro, o menor percentual desde novembro de 2003.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não perdeu a oportunidade de comemorar os números do IBGE, apesar do péssimo resultado do Caged esta semana. Ele disse que o Brasil é um dos países que mais cria postos de trabalho, embora menos que no ano passado.

- A população brasileira nunca esteve tão bem servida em termos de emprego, nunca. Eu posso dizer isso - afirmou o ministro. - Melhor do que isso estraga. Estraga porque se você tem excesso de oferta de emprego e não tem trabalhadores, vai ter problemas setoriais.

O percentual de desempregados foi inferior tanto ao de outubro (5,8%) quanto ao de novembro de 2010 (5,7%), embora o país ainda tenha um contingente 1,252 milhão de pessoas em busca de emprego.

Pelos dados do IBGE, apesar da desaceleração da economia no último trimestre o país caminha para chegar à sua mais baixa taxa de desemprego este ano. De janeiro a novembro, a taxa média foi de 6,1%, abaixo dos 6,9% de igual período de 2010. Naquele ano, a taxa média anual foi de 6,7%. O nível de ocupação (pessoas empregadas) também bateu recorde em novembro, chegando a 54,3% da População em Idade Ativa (PIA).

Azeredo, do IBGE, avalia que novembro quebrou o desaquecimento refletido pela falta de geração de vagas no segundo e no terceiro trimestres, mas alerta que efeitos de uma desaceleração da economia no emprego não estão descartados:

- É preciso ver quanto do contingente de temporários se tornará efetivo - ponderou. - É isso que vai responder se o mercado está desaquecido ou não.

Taxa está no seu limite e não deve cair muito mais

O rendimento médio real do trabalhador em novembro foi de R$1.623,40. Pelo terceiro mês consecutivo a renda praticamente não avançou: teve alta de 0,1% no mês e 0,7% na comparação anual.

- É interessante porque o forte crescimento da renda traria mais pressões sobre a inflação em 2012 - diz o economista André Perfeito, da Gradual Investimentos.

Para economistas, os dados do IBGE mostram que o mercado de trabalho ainda vai bem, mas a taxa de desemprego está próxima de seu limite. Na análise de Perfeito, o país terá menos investimentos em 2012, o que significará menos vagas. Ele projeta que o desemprego suba a 6,5%, contra 6% em 2011. Já Felipe Wajskop, do Banco ABC Brasil, alerta que além da indústria, setores como comércio e serviços tendem a contratar menos no ano que vem.

O professor João Sabóia, da UFRJ, diz que o que os efeitos da desaceleração econômica chegam depois ao mercado de trabalho, mas não devem mudar significativamente seus rumos.

- Em 2012 tudo dependerá da intensidade da crise na Europa e das medidas que o governo vai tomar - disse.

Mantega lembrou que o Brasil já importa mão de obra para setores da indústria e que se continuasse a gerar empregos como em 2010, haveria desequilíbrios. Mas disse que uma pequena taxa de desemprego será importante:

- O melhor seguro para a população é o emprego.