Título: Vou fazer de tudo contra a limpeza humana nas cidades
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 23/12/2011, O País, p. 13
Dilma firmou o compromisso de combater a violência que matou 142 moradores de rua este ano, segundo denúncia
DILMA na celebração de Natal dos catadores de materiais recicláveis, em SP
SÃO PAULO. Após receber a denúncia de que 142 moradores de rua foram mortos este ano no país, sobretudo por causa da ação de grupos de extermínio e da polícia, a presidente Dilma Rousseff propôs ontem, durante celebração de Natal com os catadores de materiais recicláveis, em São Paulo, um diálogo com os governos estaduais para combater a violência nas ruas. Ela garantiu que fará "tudo o que puder" para estancar a violência, que classificou como "uma limpeza humana nas grandes cidades".
- O governo federal vai fazer também tudo o que puder para impedir que haja, nas cidades e nos estados, esse nível de violência que vocês estão denunciando aqui. Acho importante criar, com os senhores governadores, um diálogo para impedir isso que a (catadora) Maria Lúcia veio aqui denunciar e que não denunciou tudo, conforme ela me disse, que é o fato de que, muitas vezes, o que está ocorrendo é uma limpeza humana nas grandes cidades deste país.
No discurso, que durou cerca de meia hora, Dilma reafirmou o compromisso do governo com os moradores de rua.
- Temos também um dever em relação à população de rua. E o primeiro deles é proteger contra a violência - afirmou, para uma plateia de cerca de 500 pessoas.
Ao falar sobre a capacitação dos catadores de materiais recicláveis, que será feita por meio de um convênio do programa Brasil Sem Miséria, assinado ontem, a presidente garantiu que isso "é uma obrigação do estado brasileiro".
Em seguida, Dilma garantiu que o governo federal terá um "grupo determinado para combater essas violências" e convocou três dos ministros (Maria do Rosário, da Secretaria Especial de Direitos Humanos; Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência; Tereza Campello, do Desenvolvimento Social) que a acompanhavam para verificar quais as circunstâncias do incêndio na Favela do Moinho, em São Paulo.
Após uma rápida visita ao local do incêndio, onde um morador morreu carbonizado, e do contato com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), Carvalho disse que não havia "desconfiança na convocação da presidente".
- Precisamos ter prudência e cuidado, não há nenhuma desconfiança. Temos que esperar a análise pericial para ver como esse incêndio começou - minimizou o ministro; - Temos que fazer um processo importante de reumanização das nossas cidades, de dar adequada destinação para essas pessoas. Isso (o incêndio), infelizmente, não acontece só aqui.
Dilma, que se comprometeu ainda com a luta dos catadores contra a incineração e pela reciclagem do lixo domiciliar, lembrou que foi ao evento duas vezes antes de assumir o cargo de presidente "de todos os brasileiros e dos pobres deste país".
Depois, fora da agenda, a presidente foi ao encontro de Lula em um hotel em São Paulo e lhe entregou um presente dos catadores de materiais recicláveis. Foi a primeira vez, em oito anos, que Lula não compareceu à festa promovida pela categoria, em razão do tratamento contra o câncer de laringe.