Título: Fogo desabriga 600 famílias em favela de SP
Autor: Voitch, Guilherme
Fonte: O Globo, 23/12/2011, O País, p. 13

Uma pessoa morreu na Favela do Moinho, uma das 2.087 que existem no estado, segundo o Censo/2010 do IBGE

O FOGO destruiu rapidamente parte dos barracos construídos no Centro

guilherme.voitch@sp.oglobo.com.br Jaqueline Falcão jaquefalcao@sp.oglobo.com.br

SÃO PAULO. Um dia depois de o IBGE ter revelado que 11,4 milhões de brasileiros, 6% do total da população do país, vivem em ocupações irregulares, a cidade de São Paulo testemunhou ontem um incêndio de grandes proporções na Favela do Moinho, em Campos Elíseos, Centro da cidade. O fogo matou uma pessoa, feriu quatro, entre elas um bombeiro, e destruiu cerca de metade dos 600 barracos. Na Grande São Paulo, 2,1 milhões de pessoas vivem nos chamados “aglomerados subnormais”. Em 2010, segundo dados de arquivo do Corpo de Bombeiros, ocorreram 58 incêndios em favelas em São Paulo, quatro vezes mais do que em 2009.

O fogo começou por volta das 10h e rapidamente se alastrou pelos barracos de madeira, erguidos nas ruínas do antigo Moinho Matarazzo. De acordo com os bombeiros, o material usado na favela, bastante inflamável, a velocidade do vento e a localização das moradias, em uma área próxima ao trilho da CPTM e cercada por muros, dificultaram os trabalhos.

Cerca de 120 bombeiros e 40 veículos foram usados no combate às chamas. Helicópteros da PM resgataram 11 pessoas que ficaram isoladas pelo fogo em um prédio abandonado, situado ao lado da favela. Duas pessoas foram socorridas com sinais de intoxicação, e outra, com fratura no punho e queimaduras. Um bombeiro foi atingido por escombros, recebeu atendimento no local e foi liberado.

Os bombeiros e a Defesa Civil não sabem como o incêndio começou, mas suspeitam que tenha sido na favela, durante uma briga de um casal. Por toda a tarde, os bombeiros fizeram o rescaldo do incêndio e encontraram um corpo calcinado.

— A princípio, só tem essa vítima. Mas o risco era grande e tivemos de sair — disse o capitão do Corpo de Bombeiros Marcelo Carnevale, dizendo que o trabalho será retomado hoje.

De acordo com a Subprefeitura da Sé, residem na favela 2,5 mil pessoas em 600 barracos, numa área de 3 mil metros quadrados. As primeiras famílias chegaram há 15 anos.

O prefeito Gilberto Kassab (PSD) esteve no local e informou que os moradores serão levados para abrigos da Prefeitura.

— Eles não retornarão à favela. Serão levados para abrigos e depois serão atendidos por programas sociais.

Mas o clima era de confusão. Muitos moradores não tinham recebido instruções da Prefeitura. Ediane Oliveira, 35 anos, correu com o marido e o filho assim que viu as primeiras chamas.

— Ninguém disse ao certo para onde vamos — contou.