Título: Pressionado e xingado por servidores, Chinaglia não cede e exclui reajustes
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 23/12/2011, O País, p. 3

Relator do Orçamento diz que pressão é normal e que já passou por momentos piores

BRASÍLIA. Como relator-geral do Orçamento, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) contrariou interesses de lobbies poderosos, ao não prever reajustes para servidores e aumento real para aposentados que ganham acima do salário mínimo. Ontem, após ler seu parecer na Comissão Mista de Orçamento (CMO), pôde sentir as consequências, diante de um barulhento grupo de cerca de 40 servidores do Poder Judiciário, inconformados por não terem garantido no Orçamento os recursos para bancar um reajuste médio de 56%, o que geraria um rombo de R$7,7 bilhões.

Chinaglia saiu da sala protegido por seguranças da Câmara, mas foi perseguido por um grupo de servidores. Na saída, os manifestantes tentaram até jogar copos de plástico de água e café no parlamentar.

Em entrevista, Chinaglia disse que "a tensão é própria da democracia" e repetiu o argumento da presidente Dilma Rousseff: é contra qualquer reajuste para servidores em 2012, por causa dos reflexos no Brasil da crise econômica internacional.

- Sou servidor público por escolha. Mas (minha posição) é porque estamos pensando nos mais pobres, em manter empregos. Não nos assustamos nem com trovão, nem com raio. É legítima a pressão do Parlamento, o que não é legítimo é querer se acovardar - disse Chinaglia.

Perseguição pelos corredores da Câmara

Chinaglia afirmou ainda que seria "irreal" alguém acreditar que apenas um deputado, mesmo que seja o relator, pudesse mudar a decisão do Poder Executivo de não dar reajustes. Repetiu que dar reajustes agora para o Judiciário e outras categorias poderia prejudicar programas sociais e investimentos:

- Já vivi momentos mais difíceis na minha vida. Não me curvo. Somente quando convencido. A tensão é própria da democracia. É normal. Não me coloco como salvador da pátria. Escolhemos o diálogo sincero como meta.

Chinaglia pretendia pular a leitura do trecho do parecer que tratava da ausência de reajustes, mas o deputado Efraim Filho (DEM-PB) insistiu que ele o fizesse. Foi nesse momento que começou a confusão: servidores que acompanhavam a sessão iniciaram os protestos.

O presidente da CMO, senador Vital do Rego (PMDB-PB), de forma inédita, suspendeu a sessão e trocou de sala. Com isso, os servidores ficaram do lado de fora, aos gritos, chamando o relator de canalha. Depois, Chinaglia saiu calmamente, mas foi perseguido pelos servidores até o acesso ao prédio principal da Câmara.

Ainda mantendo a calma, Chinaglia dizia, no meio da tarde, em meio à confusão, que o esforço era para a aprovação do Orçamento da União antes da meia-noite, prazo-limite. Ressalvou, no entanto:

- Mas, se não aprovar, não será uma catástrofe.

Sem Orçamento aprovado até 31 de dezembro, o governo só poderá gastar um percentual para manter a máquina funcionando e arcar com as despesas obrigatórias, como a folha de pagamento de funcionários e beneficiários do INSS.

Na época em que era presidente da Câmara dos Deputados, Chinaglia já costumava contrariar os servidores da Casa; encerrava as sessões do plenário às 19h, sem chance para o acúmulo de horas-extras. (Cristiane Jungblut)