Título: Feliz 2013
Autor: Batista Jr., Paulo Nogueira
Fonte: O Globo, 24/12/2011, Opinião, p. 7

Desculpe, leitor, o título meio batido. É o que me ocorre neste apagar das luzes de um ano tumultuado para a economia mundial. 2012 dificilmente será melhor. Desde 2009, um ano não começa com nuvens tão carregadas.

Não apenas a área do euro, mas todas as principais economias enfrentam dificuldades. A China é uma incógnita para o resto do mundo (talvez para os próprios chineses). A ela se aplica a célebre observação de Churchill sobre a Rússia: "É uma charada, envolta em um mistério, dentro de um enigma." Feita a ressalva, parece claro que as perspectivas da China já não são mais tão brilhantes. Acumulam-se sinais de que a economia chinesa deve sofrer alguma desaceleração em 2012. Não se pode descartar um "pouso forçado" provocado pelo colapso de um boom especulativo na área imobiliária em diversas regiões do país. Uma queda acentuada do dinamismo da China afetaria os preços das commodities, prejudicando de maneira importante países como Austrália, Brasil, Canadá.

Nos EUA, as dificuldades parecem ainda maiores. A economia se recupera com grande dificuldade da recessão de 2008-2009. O crescimento é insuficiente para diminuir de forma expressiva os altos índices de desemprego. O quadro de polarização política atrapalha muito. Mesmo em assuntos menos controvertidos, o governo Obama enfrenta enormes dificuldades para passar suas propostas pelo Congresso, especialmente pela Câmara de Representantes, dominada pelos republicanos. É quase tão difícil coordenar os partidos democrata e republicano quanto os países da área do euro.

Mas a situação na Europa, claro, é muito mais grave. A recente decisão do Banco Central Europeu de ampliar substancialmente o aporte de liquidez aos bancos trouxe grande alívio, mas a crise da área do euro está longe de resolvida.

Um dos problemas é a adoção simultânea de políticas fiscais contracionistas e, portanto, pró-cíclicas em quase toda a Europa. Como se sabe, vários governos vêm sendo pressionados pelos mercados e pela Alemanha a acelerar os seus planos de consolidação fiscal. Muitos governos estão tomando, ao mesmo tempo, medidas mais ambiciosas de redução de gastos e de aumento de impostos.

Inicialmente, os mercados reagem bem aos anúncios de austeridade, mas em seguida, quando a contração fiscal provoca recessão ou crescimento menor, os mercados reagem de forma negativa. Algumas estimativas preliminares do FMI, informa Olivier Blanchard, economista-chefe da instituição, sugerem que não são necessários multiplicadores elevados para que os efeitos conjuntos da consolidação fiscal e do crescimento econômico menor levem, no final, a um aumento, e não a uma diminuição dos prêmios de risco de títulos soberanos. Paradoxalmente, uma política fiscal draconiana, de tipo germânico, pode levar, em determinadas circunstâncias, a uma piora do crédito do governo.

O Banco Central Europeu (BCE), por sua vez, continua se negando a atuar em grande escala como emprestador de última instância nos mercados de títulos soberanos. Prevalece a visão rígida da Alemanha e do Bundesbank, o banco central alemão. Itália e Espanha continuam basicamente entregues à própria sorte, castigadas por taxas de juros extorsivas sobre seus títulos.

Em discurso recente, Jens Weidmann, presidente do banco central alemão, explicou: "Seria fatal remover completamente o efeito disciplinador das taxas de juros ascendentes. Quando o crédito se torna caro para os Estados, a atratividade de empréstimos adicionais afunda. O bom comportamento da política fiscal precisa ser recompensado por meio do custo do crédito; o mau comportamento, punido."

Submetida a essa visão punitiva dos assuntos econômicos, a periferia europeia está passando um cortado. A crise já não é mais desse país ou daquele, mas atinge a área do euro como um todo e repercute no resto do mundo. A Alemanha mantém por enquanto o sangue-frio e está pagando para ver.

Feliz 2013.

PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. é economista e diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países no Fundo Monetário Internacional, mas expressa os seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: paulonbjr@hotmail.com. Twitter: @paulonbjr.