Título: Celebridade e fugitiva
Autor:
Fonte: O Globo, 28/12/2011, O Mundo, p. 22

Atriz alauíta abandona novelas e adere à rebelião em cidade sitiada

FADWA SULEIMAN: é vista como traidora

MADRI. Ela apareceu no dia 23 de novembro sobre um palanque, vestida com uma camisa polo verde e com a cabeça coberta por um lenço. Entoava com entusiasmo slogans contra o regime de Bashar al-Assad durante uma manifestação em Homs, a cidade mais rebelde da Síria.

Aqueles que a viam mal podiam acreditar. A mulher que havia aderido aos protestos era não apenas a atriz mais conhecida da Síria, Fadwa Suleiman, como uma integrante da comunidade alauíta, a minoria religiosa à qual pertence a família Assad, que ostenta o poder e exerce a repressão no país.

Nascida em Alepo, Fadwa foi a protagonista de numerosas peças de teatro, mas se tornou mais famosa pelas novelas nas quais atuou, como “O diário de Abu Antar” ou “Mulherzinhas”. Até outubro, morava em Damasco.

— Homs é uma cidade sitiada. O número de mártires (vítimas da repressão) é elevado e os carros de combate a dividiram em distritos — explicou Fadwa à rede de TV al-Jazeera, do Qatar.

Foi uma das raras entrevistas que concedeu após passar à clandestinidade. Nela, a atriz acusou o regime sírio de tentar criar tensões sectárias entre a população.

— Todas essas razões me estimularam a vir a Homs — disse, através do Skype, com um cigarro numa das mãos e uma xícara de café na outra.

Antes de partir para a mais sunita das cidades sírias, Fadwa deixou em segurança seu único filho.

— Eu quis dizer, dessa forma, que os sírios são um só povo. Quis contradizer a versão do regime e demonstrar às pessoas que não há sectarismo — disse a atriz.

A participação de Fadwa, que atraiu atenção internacional, não para aí. Ela organizou manifestações de mulheres sírias, iniciou um a greve de fome e pediu às pessoas que plantassem oliveiras em memória dos mortos. Numa mensagem gravada, enviada a um encontro de mulheres em Paris, Fadwa pedia o fim da opressão e da injustiça e dizia lançar uma “revolução do amor, do perdão e da união da Humanidade”.

Na tentativa de capturá-la, as forças de segurança sírias revistaram, sem êxito, um subúrbio de Homs onde suspeitavam que estivesse escondida. Além disso, o governo pressionou sua família. Seu irmão apareceu diante das câmeras da TV al-Dunia, pró-regime, para condenar a atriz e explicar que Fadwa agia assim por dinheiro.

Embora seja a mais famosa, Fadwa não é a única alauíta a “trair” o regime. A escritora Samar Yazbek, autora de “O perfume da canela”, exilou-se em Paris.

“Se as autoridades atiçam o fogo, abrirão o caminho para a guerra civil”, advertiu em entrevista ao jornal “El País”, em abril.