Título: CNJ: Ayres Britto quer levar o barco devagar
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 28/12/2011, O País, p. 5

Presidente interino do STF cita canção de Paulinho da Viola para não discutir poder de investigação do Conselho

BRASÍLIA. O ministro Carlos Ayres Britto, que assumiu interinamente a presidência do Supremo Tribunal Federal, prefere não ampliar a polêmica sobre o poder de investigação do Conselho Nacional de Justiça, que dividiu integrantes do Judiciário nos últimos dias. Ayres Britto disse que não reverá liminares concedidas por outros ministros limitando poderes do CNJ e recorreu à canção "Argumento", de Paulinho da Viola, para se justificar:

- Os fatos ocorreram, o dissenso é conhecido. O presidente (Cezar) Peluso, titular do cargo, está merecidamente descansando. O momento exige comportamento condizente com a música do Paulinho da Viola que diz "faça como o velho marinheiro, que durante o nevoeiro leva o barco devagar" - filosofou.

Ayres Britto afirmou que qualquer declaração sua sobre a polêmica entre as associações de juízes e a corregedora Eliana Calmon poderia acirrar ânimos:

- Se comentar, vou requentar esse prato, provocar a rediscussão do tema. Não é procedente. Que o pleno decida. Prefiro não falar, isso implicará acirramento dos ânimos. O que quero é conduzir o Supremo, nessa interinidade, sem sobressaltos.

O caso será analisado pelo plenário do STF, no julgamento das liminares concedidas por Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio Mello. Para Ayres Britto, é preciso aguardar o julgamento. Ele destacou que o CNJ tem agido formalmente, com troca oficial de correspondência, e que caberá aos ministros definir se o órgão vem ou não agindo nos limites constitucionais:

- O CNJ tem agido à luz do dia, não às escondidas. Manteve contato de forma oficial, preto no branco. Como cidadão, vejo que o CNJ tem agido formalmente, com troca de correspondência e certamente os melhores propósitos. Cabe ao CNJ velar pelo artigo 37 da Constituição, que tem entre seus princípios o da impessoalidade.

Ele disse que se posicionará quando o caso for a plenário:

- Se o CNJ vem ou não agindo nos limites precisos de sua competência constitucional é o próprio núcleo, o cerne da polêmica que se instaurou. É o plenário quem decidirá. Não quero adiantar (posicionamento).