Título: Mordomias na cadeia
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 28/12/2011, O País, p. 3

Presídio exclusivo para PMs em Alagoas tem piscina, ar-condicionado e carros para os detentos

CELA NO presídio para policiais militares em Maceió: ar-condicionado ligado 24 horas e televisor de plasma

opais@oglobo.com.br

MACEIÓ. Enquanto a maioria dos presos em Alagoas está em condições subumanas, dividindo espaços em celas superlotadas, o mesmo não acontece com policiais militares envolvidos em crimes. Em um presídio construído só para eles, os PMs têm piscina, chuveirão, celas individuais com ar-condicionado, bicicleta e até carro para sair e voltar da cadeia.

O caso foi flagrado pelo Conselho Estadual de Segurança. Os conselheiros receberam denúncias de regalias no presídio para militares, no bairro do Trapiche da Barra. As celas tinham ar-condicionado ligado 24 horas por dia, micro-ondas, freezer, piscina com chuveirão, horários de visita sem restrição e com o privilégio de encontros íntimos a qualquer hora do dia. Também há denúncias de festas nos fins de semana, com distribuição de cerveja.

O que chamou a atenção dos conselheiros foi o fato de que os 20 presos, todos PMs, estão envolvidos em casos graves, como corrupção e homicídio. Um deles sentenciado a 40 anos de prisão.

— Não havia controle de entrada e saída das pessoas. E os presos tinham objetos que a maioria dos presos em Alagoas sequer pensa em possuir — disse o presidente do Conselho Estadual de Segurança, Paulo Brêda.

Militares acusados de crimes tinham até carro para sair e chegar a hora que quisessem da prisão. Em algumas celas, os conselheiros encontraram bicicletas para exercícios ou passeio.

— Vimos carros estacionados e que ninguém nos dizia a quem pertenciam. A suspeita é que eram dos presos. Estamos investigando — afirmou Brêda.

O conselho investiga a participação de policiais militares, que cumprem penas, em alguns crimes. A suspeita é que eles saíam das celas, cometiam crimes e depois voltavam para a cadeia.

— Pedimos a desativação do presídio e que os PMs sejam transferidos para o presídio Baldomero Cavalcanti — disse Brêda.

O Baldomero é um presídio de segurança média, na parte alta de Maceió.

A desativação do presídio militar e a transferência dos presos gerou reação de associações militares. Algumas mulheres de militares chegaram a ameaçar fazer greve de fome. Isso porque os maridos, segundo elas, eram ameaçados por criminosos presos no Baldomero.

— Somos a favor do fim das regalias no presídio militar. Mas temos PMs que estão presos por desobediência, que ainda não foram julgados, dividindo espaço em um presídio para criminosos. O que defendemos é a transferência deles para o quartel da PM. Ou então que sejam retiradas as regalias do presídio militar — disse o presidente da Associação dos Praças, Wagner Simas.

Em Alagoas, dois mil presos estão distribuídos em seis cadeias públicas e 500 ficam em delegacias superlotadas, por falta de espaço. Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o estado tem a maior quantidade de presos provisórios: a cada dez, sete não foram julgados.

Na semana passada, o Sindicato dos Policiais Civis de Alagoas reuniu jornalistas para mostrar as condições de alguns dos prédios que oferecem risco aos presos e aos policiais.

* Especial para O Globo