Título: México vem perdendo guerra ao narcotráfico
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Fonte: O Globo, 25/12/2011, O Mundo, p. 33

Repressão de Calderón a cartéis disseminou violência

María de la Luz González e Diego Jiménez F.

CIDADE DO MÉXICO e SAN JOSÉ. O México leva cinco anos lutando uma guerra - encabeçada pelo presidente Felipe Calderón contra poderosos cartéis do narcotráfico como o Sinaloa e o Los Zetas - que já produziu milhares de "narcorrefugiados" além de mais de 40 mil mortos. Sequestros, desaparecimentos, assassinatos e decapitações em massa não vitimam apenas criminosos, mas cidadãos comuns. Hoje a "narcocultura" domina a sociedade no lugar da cultura da música, da literatura, do patrimônio arqueológico - riquezas mexicanas.

Como isso ocorreu? O ponto de inflexão foi, sem dúvida, o início da estratégia de Calderón contra a droga. Edgardo Buscaglia, especialista da ONU em temas relacionados ao narcotráfico, assegura que a violência organizada reflete a incapacidade do Estado (que aumentou a repressão) de desmantelar a logística do que chama de "empresas criminosas mexicanas".

- A estratégia para reverter o fenômeno deve integrar um sistema judicial forte, o desmantelamento da economia criminal e um combate efetivo à corrupção - afirma Buscaglia.

Uma pesquisa do "El Universal" com 32 mil mexicanos mostrou que a insegurança ocupa o primeiro lugar entre as preocupações da população - agravada pela sensação de impunidade: a maioria dos crimes não é resolvida e pouquíssimos pessoas acabam presas. O tema pautará as eleições presidenciais de 2012.

René Jiménez Ornelas, do Instituto de Investigações Sociais da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), afirma que o governo, além de implementar políticas mais eficientes para combater os cartéis, precisa modificar substancialmente a política econômica, dado o contexto de desigualdade e falta de oportunidades que enfrenta o país.

"Efeito balão" atinge a América Central

Os analistas chamam de "efeito balão" quando, se em alguma zona o narcotráfico é perseguido, ele se desloca para outra. A repressão ao tráfico no México fez o balão rodar à América Central - atualmente a zona teoricamente em paz mais violenta do mundo. O incremento coincidiu com a crescente competição entre os cartéis mexicanos. Segundo os EUA, atualmente 95% da droga produzida na América do Sul que chega à América do Norte passa pela América Central.

O panorama não é alentador. Países como El Salvador e Guatemala estão entre os que mais sofrem. Segundo um informe americano, Sinaloa e Los Zetas já estão fincados na região, onde encontram governos débeis e mais suscetíveis à corrupção.